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LIVRO LANÇAMENTO
O que escreviam as mulheres do Brasil
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Que mulheres,
antes de Rachel de
Queiroz (1910) ou
Cecília Meireles
(1901-1964), teriam
escrito literatura no
Brasil? Por acaso existiram escritoras e poetas antes dessas? Quem
foram? O que pensavam?
O quase deserto de informações
sobre a produção literária feminina anterior ao século 20 diminui
agora com o lançamento da excelente antologia "Escritoras Brasileiras do Século 19", organizada
por Zahidé Lupinacci Muzart.
E as brasileiras do século 19
-algumas delas nascidas ainda
no século 18- não só escreviam
como, em muitos casos, eram autoras de uma prosa e de uma poesia talentosa, ousada na forma e
no conteúdo, capazes de derrubar
o machismo e as estreitas barreiras do tipo de educação que recebiam as meninas daquele tempo:
"Leitura, com objetivo religioso,
bordado, piano e, para algumas, o
ensino do francês, língua da sociedade!" (Zahidé Muzart).
São 52 autoras, do Maranhão ao
Rio Grande do Sul, introduzidas
por biografia, ensaio crítico da
obra e bibliografia. Uma pequena,
mas representativa, amostragem
de trechos da prosa literária e jornalística, do ensaio, das memórias e da poesia das mesmas distingue essa antologia dos poucos
similares já publicados.
Comecemos com o caso incrível
de Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís (MA), em 1825,
mulata e bastarda. Enfrentou todas as barreiras do preconceito e
publicou, em 1859, o romance
"Úrsula", considerado nosso primeiro romance abolicionista e
um dos primeiros escritos por
mulher brasileira. Em 1887, Firmina escreveu o conto "A Escrava". Foi também professora de
primeiras letras, colaboradora de
jornais literários e fundadora de
uma escola gratuita e mista, para
meninos e meninas, que causou
escândalo em Maçaricó, em 1880.
Na poesia, o nome da baiana
Adélia Fonseca (1827) é uma
(re)descoberta mais do que surpreendente. Seu verso, "marcado
pela economia, excluindo dele
qualquer exagero sentimental" e
de influência camoniana, recebeu
elogios de Machado de Assis.
Outro nome digno de destaque
é o da gaúcha Maria Benedita Câmara Bormann (1853), que usava
o pseudônimo de Délia. De espírito rebelde, idéias próprias e estilo
potente, ela se rebela contra o casamento e advoga a idéia de educação sexual para os jovens já naquela época. Publicou, em 1890,
um romance chamado "Lésbia",
definido por Norma Telles como
seu livro mais importante, um
verdadeiro "künstlerroman" (romance de artista).
Esta antologia é o resultado de
um projeto de pesquisa realizado
por 16 pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS) e
da Fundação Casa de Rui Barbosa
(FCRB), com apoio do CNPq.
Juntas, elas escreveram mais de
900 páginas, num trabalho braçal
para tirar do esquecimento o nome de escritoras que todo um século de machismo enterrou.
Avaliação: 
Livro: Escritoras Brasileiras do Século 19
Organização: Zahidé Lupinacci Muzart
Editora: Mulheres/Edunisc (tel. 0/xx/48/
233-2164; em SP, 0/xx/11/ 889-7388)
Quanto: R$ 60 (908 págs.)
E-mail:foradaqui@uol.com.br
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