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DVDS
DRAMA
"Cinema Paradiso" toca memória afetiva
THIAGO STIVALETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando foi lançado no Brasil, "Cinema Paradiso" virou
uma coqueluche. Muito antes de
"Titanic", foi daqueles filmes vistos duas, cinco e até dez vezes pelos fãs. Qual o segredo do sucesso
deste filme de um diretor italiano
que estava apenas no seu segundo
longa-metragem na época?
De uma forma evidente, o filme
nos fazia compartilhar do fascínio
dos moradores de um pequeno
vilarejo da Itália que freqüentavam o cinema do título durante a
Segunda Guerra. Choros, gargalhadas, gritos, o homem emocionado que decorava e antecipava
às lágrimas as falas de um filme, o
desapontamento coletivo quando
pela enésima vez uma cena de beijo era cortada. É como se entrássemos pela primeira vez no cinema, compartilhando o encanto
pelas imagens em movimento.
É ali que o menino Totó (Salvatore Cascio), órfão de pai, experimenta a sua primeira grande paixão, o cinema, e toma como figura paterna o projecionista do cinema, Alfredo (Philippe Noiret).
Em uma segunda leitura, que fica mais clara com os filmes posteriores do cineasta, Tornatore ensaia aqui o tema de toda a sua
obra, a nostalgia. O filme é conduzido a partir do presente (1989) do
ponto de vista de um Totó que se
tornou cineasta -mas nunca saberemos que tipo de filme faz- e
aparece triste e desiludido.
A partir dessa abertura, a força
da memória de uma infância feliz
cheia de descobertas ganha ainda
mais encantamento, ajudada pela
trilha inesquecível de Ennio Morricone. É Morricone, aliás, quem
faz na memória afetiva do espectador a ponte com o grande mestre italiano da auto-referência e da
volta às origens, Federico Fellini.
"Cinema Paradiso" sai no DVD
em duas versões: a original que foi
vista nos cinemas e uma versão
estendida, com mais de 50 minutos de cenas inéditas. Essa segunda versão chegou a ser exibida nos
cinemas americanos depois que o
filme ganhou o Oscar de filme estrangeiro, mas não chegou ao público brasileiro. Foi também a primeira versão lançada na Itália e
que se provou um fracasso.
Foram os organizadores do Festival de Cannes que sugeriram a
Tornatore um corte radical. A
comparação entre as duas versões
demonstra que um grande festival não existe apenas para sepultar a carreira de alguns filmes
mal-recebidos, mas pode salvar
um filme popular que, de outra
forma, não teria encontrado seu
público. A versão estendida se dedica a criar um desfecho para a
história de amor entre Totó e Elena, sua primeira namorada na juventude. O Totó mais velho (Jacques Perrin, diretor do recente
"Migração Alada") reencontra
Elena (Brigitte Fossey), que não
aparecia na versão mais curta.
É um reencontro desnecessário
e em tom televisivo, que tira o foco da grande relação desenvolvida no filme: aquela entre Totó e
seu mentor Alfredo, que lhe ensina o amor ao cinema e, por meio
dele, o amor à vida.
A não ser que você seja fã incondicional do filme, é melhor comprar o DVD avulso com a versão
para o cinema, que reúne ainda
bons extras: entrevistas com Tornatore e sua equipe, trecho da coletiva do filme no Festival de Cannes e um documentário sobre o
diretor.
Coleção Cinema Paradiso
Direção: Giuseppe Tornatore
Distribuidora: Versátil (edição dupla: R$ 85; edição avulsa: R$ 45)
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