São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2007

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Autoria de "Pelo Telefone" é contestada

DA SUCURSAL DO RIO

O samba é polêmico desde seu nascimento. Além de "Pelo Telefone" não ser de fato o primeiro exemplar do gênero (nos registros ou musicalmente), a autoria de Donga [Ernesto dos Santos, 1890-1974] e Mauro de Almeida [1882-1956] tem sido contestada há nove décadas.
Predomina nos livros a versão de que a composição surgiu na casa de tia Ciata, a mais famosa baiana da região da praça Onze (centro do Rio), numa roda de que teriam participado, entre outros, Sinhô, Hilário Jovino e Donga. Seria, portanto, uma criação coletiva da qual Donga teria se apropriado.
A letra, assinada pelo jornalista Mauro de Almeida (conhecido como Peru dos Pés Frios), ganhou uma paródia que dizia: "Ó que caradura/ De dizer nas rodas/ Que esse arranjo é teu!/ É do bom Hilário/ E da velha Ciata/ Que o Sinhô escreveu".
"Ele [Donga] dizia: "Não sei para que isso foi acontecer. Estou sendo condenado mais do que comunista". Mas nunca tive dúvida, sabe por quê? Tive um pai muito íntegro, que viveu para para a arte brasileira. Não deixou fortuna para ninguém. Nossa família não enriqueceu com "Pelo Telefone'", diz Lygia Santos, filha do compositor.
Pesquisadora respeitada, biógrafa de Paulo da Portela, Santos acredita que o sucesso avassalador de "Pelo Telefone" tenha sido o motivo de tanto barulho. "É aquela insatisfação de não ter conseguido realizar uma empreitada dessas", diz Santos.
"Já se fazia e se cantava samba, mas você só pode dizer que o samba começou a ser entendido a partir dessa data [Carnaval de 1917]", diz.
A nonagenária polêmica tangencia temas atuais como fusões sonoras ("Pelo Telefone" é colagem de gêneros) e autoria de obra de arte. O samba permanece jovem.


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