São Paulo, quinta, 5 de fevereiro de 1998

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Estrelas da manhã

HELOISA SEIXAS
Em contato com as costas, o lençol era um emplastro quente, amarrotado e maldito. Como ele próprio, vítima desse mal terrível que são as noites insones. Já tentara de tudo, todas as posições, pensara em carneiros, números, chamas de velas, orações. Nada. Levantou-se. Tinha por norma não olhar o relógio para não aumentar a angústia, mas pressentia, pela nesga de céu que via da cama, que o dia não tardava. De fato. Lá estava, no céu: a estrela da manhã. Lúcifer. Deu um suspiro. Há qualquer coisa de Lúcifer em quem sofre de insônia, pensou. Os anjos caídos somos nós.



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