São Paulo, quarta, 5 de março de 1997.

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TEATRO
Peça baseada na mãe do autor, nascido na cidade, estréia hoje
`Pérola', de Mauro Rasi, volta a `cidade natal' após três anos

FERNANDO DE BARROS E SILVA
enviado especial a Bauru

Depois de ficar um ano em cartaz no Rio de Janeiro e outro em São Paulo, ``Pérola'', peça de Mauro Rasi também dirigida por ele, está voltando para casa, onde começou a ser escrita há três anos, no dia em que a mãe do dramaturgo morreu.
Visto por cerca de 200 mil pessoas, o maior fenômeno teatral do país no último biênio estréia hoje em Bauru (345 km de São Paulo), cidade natal de Rasi. Fica em cartaz até domingo, quando prossegue em turnê nacional.
Serão, nas palavras do autor, ``dois espetáculos em um só, o primeiro no palco e o segundo na platéia''. Isso porque todos os personagens da peça foram inspirados em pessoas que conviveram de perto com Rasi.
Estão no elenco Vera Holtz (Pérola, a mãe do diretor), Sérgio Mamberti (Vado, seu pai), Anna de Aguiar (Elisa, a irmã), Edgar Amorim (Danilo, o cunhado), Sônia Guedes (Tia Norma, irmã de Pérola) e Emílio de Mello (que interpreta Emílio, alterego do autor).
Com exceção da mãe de Rasi, cuja morte serviu de inspiração à peça, todos os demais personagens estão vivos. A maioria mora em Bauru e verá o espetáculo.
Para descrever a sensação de estrear em sua cidade, onde a peça se desenrola, Rasi recorre à literatura. Cita o romance ``Tieta'', de Jorge Amado, e a peça ``A Visita da Velha Senhora'' (1956), do dramaturgo suíço Friedrich Durrenmatt.
``Sinto-me um pouco como `Tieta', do Jorge Amado, um pouco como a velha senhora'', diz.
No romance do escritor baiano, a personagem-título deixa Santana do Agreste, na Bahia, onde fora renegada pelo pai, e retorna vários anos depois, rica e poderosa, para acertar as contas com o passado.
Na peça de Durrenmatt, a personagem também volta à cidade natal, de onde havia sido expulsa quando jovem, para se vingar. Nos dois casos, as personagens enriquecem por meio da prostituição. ``O mundo fez de mim uma mulher da vida e eu quero fazer dele um bordel'', diz Clara na peça de Durrenmatt.
Mas, ao contrário das referências que Rasi evoca, não há qualquer disposição de vingança nessa sua volta a Bauru. Pelo contrário, a cidade e o autor vivem uma atmosfera totalmente sentimental e nostálgica, reeditando o provincianismo dos anos 50 que ele descreveu.
``Meu pai tem hoje 79 anos, está emocionadíssimo. Para mim, estrear em Bauru é uma sensação ímpar, muito especial. Todo o elenco está comovido'', diz.
Os ingressos para as seis apresentações de ``Peróla'' em Bauru estão todos esgotados. Como a cidade não tem um teatro profissional, a peça será encenada no Teatro Universitário Veritas, com capacidade para 400 pessoas.
O espaço, reformado especialmente para a ocasião, pertence à Faculdade de Ciências e Letras do Sagrado Coração de Jesus, onde Rasi estudou música.
Há outdoors anunciando ``Pérola'' por toda a cidade. Alguns foram espalhados pelas estradas, numa distância de até 100 km de Bauru. Mesmo sem ter seu teatro, a cidade viverá por cinco dias a sensação de ser a capital cênica do país.


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