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TEATRO
Peça baseada na mãe do autor, nascido na cidade, estréia hoje
`Pérola', de Mauro Rasi, volta a
`cidade natal' após três anos
FERNANDO DE BARROS E SILVA
enviado especial a Bauru
Depois de ficar um ano em cartaz
no Rio de Janeiro e outro em São
Paulo, ``Pérola'', peça de Mauro
Rasi também dirigida por ele, está
voltando para casa, onde começou
a ser escrita há três anos, no dia em
que a mãe do dramaturgo morreu.
Visto por cerca de 200 mil pessoas, o maior fenômeno teatral do
país no último biênio estréia hoje
em Bauru (345 km de São Paulo),
cidade natal de Rasi. Fica em cartaz
até domingo, quando prossegue
em turnê nacional.
Serão, nas palavras do autor,
``dois espetáculos em um só, o primeiro no palco e o segundo na platéia''. Isso porque todos os personagens da peça foram inspirados
em pessoas que conviveram de
perto com Rasi.
Estão no elenco Vera Holtz (Pérola, a mãe do diretor), Sérgio
Mamberti (Vado, seu pai), Anna
de Aguiar (Elisa, a irmã), Edgar
Amorim (Danilo, o cunhado), Sônia Guedes (Tia Norma, irmã de
Pérola) e Emílio de Mello (que interpreta Emílio, alterego do autor).
Com exceção da mãe de Rasi, cuja morte serviu de inspiração à peça, todos os demais personagens
estão vivos. A maioria mora em
Bauru e verá o espetáculo.
Para descrever a sensação de estrear em sua cidade, onde a peça se
desenrola, Rasi recorre à literatura. Cita o romance ``Tieta'', de Jorge Amado, e a peça ``A Visita da
Velha Senhora'' (1956), do dramaturgo suíço Friedrich Durrenmatt.
``Sinto-me um pouco como
`Tieta', do Jorge Amado, um pouco como a velha senhora'', diz.
No romance do escritor baiano,
a personagem-título deixa Santana
do Agreste, na Bahia, onde fora renegada pelo pai, e retorna vários
anos depois, rica e poderosa, para
acertar as contas com o passado.
Na peça de Durrenmatt, a personagem também volta à cidade natal, de onde havia sido expulsa
quando jovem, para se vingar. Nos
dois casos, as personagens enriquecem por meio da prostituição.
``O mundo fez de mim uma mulher da vida e eu quero fazer dele
um bordel'', diz Clara na peça de
Durrenmatt.
Mas, ao contrário das referências
que Rasi evoca, não há qualquer
disposição de vingança nessa sua
volta a Bauru. Pelo contrário, a cidade e o autor vivem uma atmosfera totalmente sentimental e nostálgica, reeditando o provincianismo
dos anos 50 que ele descreveu.
``Meu pai tem hoje 79 anos, está
emocionadíssimo. Para mim, estrear em Bauru é uma sensação
ímpar, muito especial. Todo o
elenco está comovido'', diz.
Os ingressos para as seis apresentações de ``Peróla'' em Bauru
estão todos esgotados. Como a cidade não tem um teatro profissional, a peça será encenada no Teatro Universitário Veritas, com capacidade para 400 pessoas.
O espaço, reformado especialmente para a ocasião, pertence à
Faculdade de Ciências e Letras do
Sagrado Coração de Jesus, onde
Rasi estudou música.
Há outdoors anunciando ``Pérola'' por toda a cidade. Alguns foram espalhados pelas estradas, numa distância de até 100 km de Bauru. Mesmo sem ter seu teatro, a cidade viverá por cinco dias a sensação de ser a capital cênica do país.
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