São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009

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Heróis ou Vilões?

"Watchmen", que estreia amanhã, questiona o papel social dos super-heróis; o visual é fiel à HQ, mas o conteúdo, não

Fotos Divulgação
Dr. Manhattan (Billy Cudrup), um dos protagonistas da versão de 'Watchmen" para o cinema

PEDRO CIRNE
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Mais de duas décadas depois de "Watchmen" mudar o mundo dos quadrinhos de super-heróis, a história criada pelos britânicos Alan Moore (roteiro) e Dave Gibbons (arte) estreia no cinema repetindo a pergunta feita na minissérie publicada nos Estados Unidos de 1985 a 1986: quem vigia aqueles que nos vigiam -no caso, os super-heróis? A responsabilidade de transformar a icônica HQ no filme que estreia amanhã coube ao diretor Zack Snyder ("300"), que fez 43 anos no domingo.
Não é difícil entender por que "Watchmen", a HQ, fez tanto sucesso. Além de ser muito bem escrita e ilustrada, trouxe uma visão original para o conceito de super-heróis, que surgiu em 1938 com a aparição do Super-Homem e se estabeleceu como grande gênero dos quadrinhos americanos. Em "Watchmen", a velha história de bem versus mal foi deixada de lado: todos os personagens têm lados bons e maus. Eram humanos -talvez até demais.
Assim, os super-heróis criados por Moore & Gibbons têm uniformes, identidades secretas e codinomes "heroicos" (Comediante, Espectral, Coruja), mas são apresentados em ações pouco "super": brigando entre si, falhando durante o ato sexual ou mesmo realizando atos criminosos, como assassinar uma pessoa inocente a sangue-frio ou estuprar uma colega super-heroína. No mundo sombrio de "Watchmen", o governo norte-americano proibiu, em 1977, a atuação de encapuzados autodenominados super-heróis, que foram forçados a se aposentar. Apenas três continuaram na ativa: o Comediante e o Dr. Manhattan, que trabalham para o governo, e Rorschach, que opera fora da lei e tem de fugir da polícia. A trama começa em 1985, quando o Comediante é assassinado. Rorschach decide investigar: pode ser uma vingança contra todos os super-heróis... ou pode ser algo maior.
"A cultura pop e a cultura de super-heróis já estão definitivamente interligadas, não há nada que se possa fazer a respeito", diz o diretor, Zack Snyder. "Super-heróis já são aceitos, são icônicos. Está na hora, então, de perguntarmos: "Por quê?". Se você, por exemplo, é um fã do Batman, deve se questionar: "Tudo bem sair à noite e espancar pessoas?"." "Esse é um filme diferente dos outros de super-heróis em todos os sentidos", afirma Snyder. "A minha esperança é que ele faça com os fãs dos filmes do gênero o que a HQ fez comigo: pensar a respeito do papel dos super-heróis."

"Fundamentalistas"
Snyder é, assumidamente, um fã de HQs -e de "Watchmen". Para quem leu a minissérie, isso fica nítido no filme. Da maquiagem ao figurino, passando pelo enquadramento das cenas, o diretor foi zeloso em manter seu longa-metragem próximo do original. Há diferenças no roteiro, como diálogos cortados, a redução da presença de alguns personagens e uma significativa alteração no final. Os envolvidos no filme sabem que, por se tratar da adaptação de obra importante, a reação dos leitores será apaixonada, para o bem ou para o mal. "Fãs fundamentalistas nunca ficarão felizes", diz o ilustrador Dave Gibbons.
Gibbons agiu como consultor de Snyder, com quem conversou durante as filmagens. "Não participei do longa. Eu fiz meu trabalho muitos e muitos anos atrás!", disse o ilustrador, em entrevista de lançamento do filme, duas semanas atrás.
O trabalho de Moore e Gibbons, de fato, foi feito há décadas -e ainda hoje repercute. Agora é a vez de Snyder e companhia levarem essa visão crua do fantasioso mundo dos super-heróis a um público mais amplo, que provavelmente desconhece a obra original e o universo dos quadrinhos.

O jornalista PEDRO CIRNE , editor do UOL Notícias, viajou a Los Angeles a convite da distribuidora Paramount.


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