São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2010

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Crítica/ "Coração Louco"

Filme homenageia produção independente dos anos 70

De baixo orçamento, longa aposta em história minimalista e na força dos atores

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

"Coração Louco" é um pequeno grande filme. Rodado em 24 dias, com um elenco reduzido e baixo orçamento, o filme resgata um estilo de fazer cinema que parecia sumido de Hollywood há um bom tempo. Desde já, uma das grandes surpresas do ano.
Jeff Bridges interpreta Bad Blake, um astro decadente da música country. Blake é alcoólatra e viaja o país tocando em espeluncas vazias e vivendo de glórias passadas. Até que conhece a jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal), pelo menos 20 anos mais nova, por quem se apaixona. O romance faz Blake repensar sua vida e carreira.
"Coração Louco" é um filme deslocado no tempo. Quem admira o cinema mais alternativo que saía de Hollywood nos anos 70 e 80, com suas histórias contadas de forma minimalista, vai se surpreender. Não é à toa que o diretor Scott Cooper se diz influenciado por filmes como "Terra de Ninguém" (Terrence Malick, 1973), "Nashville" (Robert Altman, 1975) e "A Última Sessão de Cinema" (Peter Bogdanovich, 1971).
"Coração Louco" tem um estilo econômico e um ritmo lento que parecem fora de moda, mas que são, na verdade, a sua maior força. Sem grandes invencionices de roteiro, o diretor Scott Cooper dá espaço para que brilhem os atores e a história. Não por acaso, Jeff Bridges e Maggie Gyllenhaal foram indicados ao Oscar. Bridges, há 40 anos um dos atores mais silenciosamente brilhantes do cinema, interpreta um homem cansado, que já viveu muito e intensamente.
Seu personagem é um "bad boy" clássico do cinema americano, interpretado com economia e sutileza admiráveis. Bridges é o favorito absoluto para levar o Oscar de melhor ator. Difícil acreditar que um filme com tantas qualidades foi escrito e dirigido por um estreante.
Por quase 20 anos, Scott Cooper, 39, teve uma carreira de ator sem nenhum brilho. Agora, parece ter encontrado a sua vocação com "Coração Louco", em que demonstra um grande talento para escrever diálogos tocantes e cenas memoráveis.
No filme, Cooper presta ainda uma bonita homenagem a Robert Duvall, um ícone do cinema americano dos anos 70. Duvall, que produziu "Coração Louco", faz uma ponta como um amigo de Bad Blake. Curioso lembrar que Duvall ganhou um Oscar por "A Força do Carinho" ("Tender Mercies", 1983), interpretando um personagem muito parecido com Bad Blake. Quem sabe a história não se repete com Jeff Bridges?


CORAÇÃO LOUCO

Diretor: Scott Cooper
Produção: EUA, 2009
Com: Jeff Bridges, Maggie Gyllenhaal e Robert Duvall
Onde: Espaço Unibanco Augusta, Kinoplex Itaim e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: ótimo




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