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CINEMA
Escritor virá ao Brasil em setembro para ministrar workshops no Rio e dará noite de autógrafos em São Paulo
Syd Field analisa `Quatro Roteiros' dos 90
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Os filmes ``Thelma e Louise'' ``O
Exterminador do Futuro 2'', ``O
Silêncio dos Inocentes'' e ``Dança
com Lobos'' são analisados e têm a
história de sua criação contada no
livro ``Quatro Roteiros'', de Syd
Field, que está sendo lançado no
Brasil.
Definidos como ``clássicos contemporâneos'', os filmes trouxeram uma mudança de conteúdo à
produção de Hollywood no início
da década, segundo o autor.
Professor de técnica de roteiro
em duas universidades, Field faz
workshops sobre o tema no mundo inteiro. É autor do ``Manual do
Roteiro'', utilizado em cerca de 150
universidades norte-americanas.
Mas Field critica a atual produção cinematográfica dos EUA. ``A
maioria dos novos filmes é uma
piada. Não tem conteúdo. As histórias são criadas a partir dos efeitos especiais, o que é muito tolo'',
afirmou à Folha, por telefone, de
Beverly Hills, na Califórnia.
Field vem ao Brasil em setembro.
Ele já esteve no país há dois anos e
teve em seu curso, entre outros,
Denise Bandeira e Leopoldo Serran (roteirista de ``O Quatrilho'' e
``O Que É Isso, Companheiro?'').
Desta vez, passará duas semanas
fazendo workshops para roteiristas -prioritariamente profissionais- no Rio, promovidos pela
Motion Pictures Association. Em
São Paulo, ainda sem confirmação, ele poderá vir para noite de
autógrafos de ``Quatro Roteiros''.
Folha - Por que escolheu esses
filmes para analisar?
Syd Field - Tudo começou
quando assisti a ``O Exterminador
do Futuro 2''. Percebi que se tratava de um filme do futuro. Decidi
descobrir por quê. Um ponto é
que, sem os avanços de efeitos especiais do ``Exterminador'', não
teríamos filmes como ``Parque
dos Dinossauros'' ou ``Toy Story''.
O cinema é um casamento de arte e ciência e, algumas vezes, como
agora, a ciência vem em primeiro
lugar. Então vi os outros três filmes. Em comum, eles têm inícios
diferentes, personagens novos e,
mais do que isso, quando estava
lendo os roteiros, percebi que tratam de novos temas. É uma mudança de conteúdo e forma.
Folha - No livro, o sr. diz que o
tema principal desses filmes é a
jornada do herói, uma viagem espiritual e de transformação do
protagonista. Esse tema já não é
comum no cinema?
Field - Sim, o tema é comum,
mas nunca esteve presente nos filmes com tal consciência e clareza,
como um objetivo. A influência do
intelectual Joseph Campbell (autor de ``O Poder do Mito'') é que
ele levou a outro nível, modernizou o conceito de que as sociedades têm em comum suas fundações mitológicas.
Folha - O sr. disse que atualmente a ciência vem antes da arte no
cinema. Qual sua opinião sobre a
produção atual de Hollywood?
Field - A maioria dos novos filmes é uma piada. Não tem conteúdo. As histórias são criadas a partir
dos efeitos especiais, o que é muito
tolo. Há um enorme número de
filmes como esse, do tipo ``Volcano'' e ``Missão Impossível'' e
``Turbulência''. Então, os cineastas independentes aparecem e tentam criar. ``Fargo'', de Joel e Ethan
Coen é um exemplo disso. Há outros, como ``O Paciente Inglês''.
Folha - No Brasil, ``O Paciente Inglês'' foi visto com restrições por
boa parte da crítica. Na sua opinião, quais as características desse
filme que cativaram tanto os norte-americanos?
Field - Em primeiro lugar, um
senso de romantismo. Há maravilhosas locações no deserto, um
acordo através do tempo, e o momento de pico é quando os personagens se apaixonam. Além disso,
o filme mostra três histórias diferentes: no tempo presente, as memórias do paciente, quando ele está sob efeito de morfina, e seu relacionamento com a enfermeira.
Tudo isso é contado numa estrutura não-linear. Diante dos problemas da realidade da vida moderna, esse é um filme que as pessoas têm prazer em abraçar.
Folha - ``Jerry Maguire'', outro indicado a melhor filme, também recebeu várias críticas no Brasil.
Apesar de seguir a estrutura de roteiro que o sr. aponta como ideal,
o filme tem diálogos considerados
fracos...
Field - Esse filme é muito previsível. Você sabe que ele se apaixonará por ela, a única coisa que não
sabe é como. Acho que as interpretações são muito boas e Tom Cruise foi indicado por ter um certo
charme.
Folha - Em ``Quatro Roteiros'', o
sr. entrevista e conta a história de
cada roteirista. O que quis mostrar
com isso?
Field - Eu acredito no roteirista.
Ele é a fundação de qualquer filme.
Recebendo críticas ou elogios, só
ele sabe como preencher a folha de
papel com suas idéias. Os roteiristas têm que ser aplaudidos e reconhecidos. E não é isso que sempre
acontece nos Estados Unidos.
Folha - O sr. ensina candidatos a
roteiristas. Qual a informação mais
básica que um novato deve ter?
Field - Ele precisa perceber que
um roteiro é uma forma única.
Não é um romance, não é uma peça. É uma história contada com
imagens. Ao escrever, ele precisa
encontrar a imagem que expresse
uma idéia ou uma metáfora. É o
tipo de ofício que é preciso aprender. Ele deve encontrar uma arena,
um cenário para a ação. Novos escritores, geralmente, contam a história em diálogos. Fazendo isso,
você está de volta aos filmes dos
anos 40.
Livro: Quatro Roteiros
Autor: Syd Field
Lançamento: Objetiva
Quanto: R$ 23,80 (374 págs.)
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