São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997.

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CINEMA
Escritor virá ao Brasil em setembro para ministrar workshops no Rio e dará noite de autógrafos em São Paulo
Syd Field analisa `Quatro Roteiros' dos 90

PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Os filmes ``Thelma e Louise'' ``O Exterminador do Futuro 2'', ``O Silêncio dos Inocentes'' e ``Dança com Lobos'' são analisados e têm a história de sua criação contada no livro ``Quatro Roteiros'', de Syd Field, que está sendo lançado no Brasil.
Definidos como ``clássicos contemporâneos'', os filmes trouxeram uma mudança de conteúdo à produção de Hollywood no início da década, segundo o autor.
Professor de técnica de roteiro em duas universidades, Field faz workshops sobre o tema no mundo inteiro. É autor do ``Manual do Roteiro'', utilizado em cerca de 150 universidades norte-americanas.
Mas Field critica a atual produção cinematográfica dos EUA. ``A maioria dos novos filmes é uma piada. Não tem conteúdo. As histórias são criadas a partir dos efeitos especiais, o que é muito tolo'', afirmou à Folha, por telefone, de Beverly Hills, na Califórnia.
Field vem ao Brasil em setembro. Ele já esteve no país há dois anos e teve em seu curso, entre outros, Denise Bandeira e Leopoldo Serran (roteirista de ``O Quatrilho'' e ``O Que É Isso, Companheiro?'').
Desta vez, passará duas semanas fazendo workshops para roteiristas -prioritariamente profissionais- no Rio, promovidos pela Motion Pictures Association. Em São Paulo, ainda sem confirmação, ele poderá vir para noite de autógrafos de ``Quatro Roteiros''.

Folha - Por que escolheu esses filmes para analisar?
Syd Field
- Tudo começou quando assisti a ``O Exterminador do Futuro 2''. Percebi que se tratava de um filme do futuro. Decidi descobrir por quê. Um ponto é que, sem os avanços de efeitos especiais do ``Exterminador'', não teríamos filmes como ``Parque dos Dinossauros'' ou ``Toy Story''.
O cinema é um casamento de arte e ciência e, algumas vezes, como agora, a ciência vem em primeiro lugar. Então vi os outros três filmes. Em comum, eles têm inícios diferentes, personagens novos e, mais do que isso, quando estava lendo os roteiros, percebi que tratam de novos temas. É uma mudança de conteúdo e forma.
Folha - No livro, o sr. diz que o tema principal desses filmes é a jornada do herói, uma viagem espiritual e de transformação do protagonista. Esse tema já não é comum no cinema?
Field
- Sim, o tema é comum, mas nunca esteve presente nos filmes com tal consciência e clareza, como um objetivo. A influência do intelectual Joseph Campbell (autor de ``O Poder do Mito'') é que ele levou a outro nível, modernizou o conceito de que as sociedades têm em comum suas fundações mitológicas.
Folha - O sr. disse que atualmente a ciência vem antes da arte no cinema. Qual sua opinião sobre a produção atual de Hollywood?
Field
- A maioria dos novos filmes é uma piada. Não tem conteúdo. As histórias são criadas a partir dos efeitos especiais, o que é muito tolo. Há um enorme número de filmes como esse, do tipo ``Volcano'' e ``Missão Impossível'' e ``Turbulência''. Então, os cineastas independentes aparecem e tentam criar. ``Fargo'', de Joel e Ethan Coen é um exemplo disso. Há outros, como ``O Paciente Inglês''.
Folha - No Brasil, ``O Paciente Inglês'' foi visto com restrições por boa parte da crítica. Na sua opinião, quais as características desse filme que cativaram tanto os norte-americanos?
Field
- Em primeiro lugar, um senso de romantismo. Há maravilhosas locações no deserto, um acordo através do tempo, e o momento de pico é quando os personagens se apaixonam. Além disso, o filme mostra três histórias diferentes: no tempo presente, as memórias do paciente, quando ele está sob efeito de morfina, e seu relacionamento com a enfermeira. Tudo isso é contado numa estrutura não-linear. Diante dos problemas da realidade da vida moderna, esse é um filme que as pessoas têm prazer em abraçar.
Folha - ``Jerry Maguire'', outro indicado a melhor filme, também recebeu várias críticas no Brasil. Apesar de seguir a estrutura de roteiro que o sr. aponta como ideal, o filme tem diálogos considerados fracos...
Field
- Esse filme é muito previsível. Você sabe que ele se apaixonará por ela, a única coisa que não sabe é como. Acho que as interpretações são muito boas e Tom Cruise foi indicado por ter um certo charme.
Folha - Em ``Quatro Roteiros'', o sr. entrevista e conta a história de cada roteirista. O que quis mostrar com isso?
Field
- Eu acredito no roteirista. Ele é a fundação de qualquer filme. Recebendo críticas ou elogios, só ele sabe como preencher a folha de papel com suas idéias. Os roteiristas têm que ser aplaudidos e reconhecidos. E não é isso que sempre acontece nos Estados Unidos.
Folha - O sr. ensina candidatos a roteiristas. Qual a informação mais básica que um novato deve ter?
Field
- Ele precisa perceber que um roteiro é uma forma única. Não é um romance, não é uma peça. É uma história contada com imagens. Ao escrever, ele precisa encontrar a imagem que expresse uma idéia ou uma metáfora. É o tipo de ofício que é preciso aprender. Ele deve encontrar uma arena, um cenário para a ação. Novos escritores, geralmente, contam a história em diálogos. Fazendo isso, você está de volta aos filmes dos anos 40.


Livro: Quatro Roteiros
Autor: Syd Field
Lançamento: Objetiva
Quanto: R$ 23,80 (374 págs.)

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