São Paulo, sexta-feira, 05 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA/LANÇAMENTOS

"RELEASE"

Novo disco da dupla inglesa tem colaboração de Johnny Marr em 7 faixas

Pet Shop Boys retornam tristes e abertamente gays

DA REPORTAGEM LOCAL

Os Pet Shop Boys têm sido, por duas décadas, uma dupla que equilibra e alterna momentos musicais de euforia e de melancolia. "Release", o novo álbum da parceria entre os britânicos Neil Tennant, 47, e Chris Lowe, 42, é caso raro de desequilíbrio, em que o lado melancólico sai correndo na frente do outro.
Sinal disso aparece desde a presença de Johnny Marr, ex-Smiths, como guitarrista de sete das dez faixas. E se consuma no tom lamurioso de quase todas as letras e melodias, as primeiras quase sempre puxadas à fossa amorosa, as últimas o tempo quase todo inclinadas às baladas deprimidas.
As exceções dão início ao disco, talvez para despistar. "Home and Dry", música de trabalho, lembra um reggae insosso à moda do Police. Indica estarem os PSB investindo em sonoridade mais datada que a sua própria, de tecnopop dançante e abusado. Referência aos vocoders que andaram robotizando a voz de Cher são insinuação a mais nesse sentido.
A segunda faixa, "I Get Along", também foge pela tangente, mas em outra direção: à parte a intervenção de Johnny Marr, está mais para rock do Oasis, tipo os PSB brincando de rejuvenescer.
Na balada sussurrada "Birthday Boy", o jogo começa a clarear. Deprimida entre Echo and the Bunnymen e The Jesus and Mary Chain, começa a demonstrar que os rapazes estão por ora longe daquele humor festivo -mas sempre irônico- que os caracteriza.
Os sinais de mal-estar invadem "London", a mais corpulenta até aqui. "Meu pai lutou no Afeganistão/a pensão da viúva não vale nada", canta Neil, voz quebrada, novamente robotizada.
Sinais de modem e otimismo caracterizam "E-Mail", ode às novas modalidades de cartas de amor, mas a melodia que lembra a velha "Decadence" parece dizer o contrário da letra. A faixa seguinte, "The Samurai in Autumn", completa essa impressão -o samurai reflete sobre a chegada do outono, tecnopop manteiga e sintetizador new age dando a medida do passar dos anos.
"Love Is a Catastrophe" entrega o jogo de vez. Lentíssima, dá voz a um narrador desconcertado e desconcentrado, sem ter onde ir, tentando entender como caiu na areia movediça. "O amor é uma catástrofe, pelo menos para mim" é a conclusão pessimista de quem lamenta a saudade do verão e avisa: "Nunca estive mais sozinho em minha vida".
"Here", a seguinte, tenta contemporizar -o narrador oferece a casa de volta a quem se foi, arrependendo-se de que "às vezes não percebemos quando nosso sonho se realizou". Ufa, está difícil.
O momento de relaxamento será, paradoxalmente, mais outro de melancolia. Não é segredo a ninguém que os PSB são uma dupla gay, mas em "The Night I Fell in Love" eles provavelmente vão diretamente ao assunto pela primeira vez, sem refúgios dúbios, sem medo de serem (in)felizes.
Sob melodia pesada de vento soprando, a narrativa é de alguém que, em primeira pessoa, conta história de quando se apaixonou por um pop star (do sexo masculino). O astro retribui e propõe serem "amantes secretos", com medo da "homofobia".
A ironia já está estabelecida, mas vai se inverter em confissão perigosa, do narrador lembrando que teve que sair correndo, apaixonado... para o colégio. Quase como um posfácio, a última canção, "You Choose", se define no primeiro verso: "Ele se foi".
É, parece que é outono na casa de Chris e Neil. O disco não é um tufão, a não ser no quesito tristeza, mas guarda o mérito de definir um novo período na história dos PSB e do pop: já não é preciso falar por meias palavras, e que tudo mais vá para o inferno.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Release    
Artista: Pet Shop Boys
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 30, em média


Texto Anterior: Marina Lima: Artista canta "Mais Perto" no fim de semana
Próximo Texto: Outros lançamentos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.