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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"RELEASE"
Novo disco da dupla inglesa tem colaboração de Johnny Marr em 7 faixas
Pet Shop Boys retornam tristes e abertamente gays
DA REPORTAGEM LOCAL
Os Pet Shop Boys têm sido,
por duas décadas, uma dupla que equilibra e alterna momentos musicais de euforia e de melancolia. "Release", o novo álbum da parceria entre os britânicos Neil Tennant, 47, e Chris Lowe, 42, é caso raro de desequilíbrio, em que o lado melancólico
sai correndo na frente do outro.
Sinal disso aparece desde a presença de Johnny Marr, ex-Smiths,
como guitarrista de sete das dez
faixas. E se consuma no tom lamurioso de quase todas as letras e
melodias, as primeiras quase
sempre puxadas à fossa amorosa,
as últimas o tempo quase todo inclinadas às baladas deprimidas.
As exceções dão início ao disco,
talvez para despistar. "Home and
Dry", música de trabalho, lembra
um reggae insosso à moda do Police. Indica estarem os PSB investindo em sonoridade mais datada
que a sua própria, de tecnopop
dançante e abusado. Referência
aos vocoders que andaram robotizando a voz de Cher são insinuação a mais nesse sentido.
A segunda faixa, "I Get Along",
também foge pela tangente, mas
em outra direção: à parte a intervenção de Johnny Marr, está mais
para rock do Oasis, tipo os PSB
brincando de rejuvenescer.
Na balada sussurrada "Birthday
Boy", o jogo começa a clarear. Deprimida entre Echo and the
Bunnymen e The Jesus and Mary
Chain, começa a demonstrar que
os rapazes estão por ora longe daquele humor festivo -mas sempre irônico- que os caracteriza.
Os sinais de mal-estar invadem
"London", a mais corpulenta até
aqui. "Meu pai lutou no Afeganistão/a pensão da viúva não vale nada", canta Neil, voz quebrada, novamente robotizada.
Sinais de modem e otimismo
caracterizam "E-Mail", ode às novas modalidades de cartas de
amor, mas a melodia que lembra
a velha "Decadence" parece dizer
o contrário da letra. A faixa seguinte, "The Samurai in Autumn", completa essa impressão
-o samurai reflete sobre a chegada do outono, tecnopop manteiga
e sintetizador new age dando a
medida do passar dos anos.
"Love Is a Catastrophe" entrega
o jogo de vez. Lentíssima, dá voz a
um narrador desconcertado e
desconcentrado, sem ter onde ir,
tentando entender como caiu na
areia movediça. "O amor é uma
catástrofe, pelo menos para mim"
é a conclusão pessimista de quem
lamenta a saudade do verão e avisa: "Nunca estive mais sozinho
em minha vida".
"Here", a seguinte, tenta contemporizar -o narrador oferece
a casa de volta a quem se foi, arrependendo-se de que "às vezes não
percebemos quando nosso sonho
se realizou". Ufa, está difícil.
O momento de relaxamento será, paradoxalmente, mais outro
de melancolia. Não é segredo a
ninguém que os PSB são uma dupla gay, mas em "The Night I Fell
in Love" eles provavelmente vão
diretamente ao assunto pela primeira vez, sem refúgios dúbios,
sem medo de serem (in)felizes.
Sob melodia pesada de vento
soprando, a narrativa é de alguém
que, em primeira pessoa, conta
história de quando se apaixonou
por um pop star (do sexo masculino). O astro retribui e propõe serem "amantes secretos", com medo da "homofobia".
A ironia já está estabelecida,
mas vai se inverter em confissão
perigosa, do narrador lembrando
que teve que sair correndo, apaixonado... para o colégio. Quase
como um posfácio, a última canção, "You Choose", se define no
primeiro verso: "Ele se foi".
É, parece que é outono na casa
de Chris e Neil. O disco não é um
tufão, a não ser no quesito tristeza, mas guarda o mérito de definir
um novo período na história dos
PSB e do pop: já não é preciso falar por meias palavras, e que tudo
mais vá para o inferno. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Release
Artista: Pet Shop Boys
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 30, em média
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