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Crítica/"O Rosto de Karin", "O Olhar de Michelangelo" e "Ingmar Bergman - Intermezzo"
Festival destaca Bergman e Antonioni
Dois cineastas que morreram no ano passado têm documentários e entrevista exibidos no É Tudo Verdade, em São Paulo
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Dois filmes curtos e um
média-metragem, programados em conjunto
numa sessão hoje, às 15h, no Cinesesc no festival É Tudo Verdade, dão a medida do assombro do cinema quando a câmera cai nas mãos de artistas.
Os curtas são trabalhos tardios de Ingmar Bergman e de
Michelangelo Antonioni, ambos desaparecidos num intervalo de algumas horas em julho
do ano passado.
Feito em 1986 por Bergman,
"O Rosto de Karin" é um exercício de folhear as imagens de
um álbum de retratos e reconstituir imaginariamente as histórias mudas que eles guardam.
Karin é a mãe do diretor, que
neste trabalho faz suceder os
rostos dela e de familiares com
um recurso simples de edição.
Nesse trajeto, emana um
"quem", portador de uma história e transmissor de muitas
histórias. Elas reiteram o mistério que cada pessoa, em seu
passado, concentra.
Não há exposição de segredos nem devassa de memórias.
O que subsiste em suas imagens é um movimento que
guarda um mesmo tanto de
desvelamentos e de ocultações.
Em seu penúltimo trabalho,
feito em 2004, Antonioni confronta dois artistas que carregam um mesmo nome. "O
Olhar de Michelangelo" põe em
cena (Michelangelo) Antonioni
diante das esculturas feitas por
(Michelangelo) Buonarrotti
para o túmulo do papa Júlio 2º.
O olhar do cineasta se detém
nos olhos de "Moisés", figura
central do conjunto esculpido
em mármore. Suas mãos percorrem o corpo da estátua, um
movimento que nenhum visitante tem o direito de executar
nos consagrados museus.
É esta ação tátil que Antonioni traduz sob a forma de olhares. Suas mãos fazem em cena o
que equivale ao que nossos
olhos fazem nas imagens de cinema: percorrer, apalpar, acariciar como forma de experimentar e compreender.
A experiência do programa
se encerra genialmente com
"Ingmar Bergman; Intermezzo". O trabalho, assinado por
Gunnar Bergdahl, registra uma
conversa de 40 minutos, ocorrida em 2001, entre o documentarista e Bergman, que inverte a lógica da entrevista e começa a fazer perguntas a seu interlocutor. Descreve memórias, sentimentos, fala sobre filmes alheios e sobre Strindberg.
A meio caminho, o nome de
Antonioni aparece: "Antonioni
disse uma coisa muito exata
-que o cinema é um meio estranho, no sentido que, se você
tem algo a dizer, pode fazê-lo
num filme. Mas vejo que os novos diretores que aparecem hoje dominam a técnica com perfeição, conhecem seu trabalho,
mas poucos têm o que dizer".
Premiação
A cerimônia de premiação do
festival começa hoje, às 20h30,
no Cinesesc.
BERGMAN/ANTONIONI
Quando: hoje, às 15h
Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3087-0500)
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo
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