Livro do americano David Bodanis mostra caminhos paralelos trilhados pela descoberta científica e pela inovação tecnológica

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Você aperta um botão e a luz acende. Parece mágica e durante quase toda a história da humanidade a eletricidade lembrava uma forma de magia. Os raios eram algo sobrenatural que deviam assustar homens pré-históricos. Várias culturas tinham deuses do trovão e dos relâmpagos.
Hoje o mundo é inconcebível sem eletricidade e o historiador David Bodanis fez um trabalho magistral contando a história dessa tecnologia, ao mesmo tempo preciso cientificamente e charmoso de ler.
E nem faz tanto tempo assim. Ele lembra na introdução que, quando seu pai era menino em uma aldeia polonesa antes da Primeira Guerra Mundial, uma pane geral do sistema elétrico nada afetaria a vida do seu progenitor. Não havia carros, nem semáforos, nem geladeiras, e apenas algumas casas, dos mais ricos, tinham luz elétrica. Na aldeia, havia uma linha de telégrafo que deixaria de funcionar. Mas isso afetava pouca gente.
Não demorou muito para a coisa mudar. O pai de Bodanis foi para os EUA depois da guerra, e ali uma pane elétrica seria algo mais grave. Já havia telefones, elevadores, bondes. Mas a vida poderia continuar, apesar dos sobressaltos.
Em uma cidade atual, a pane elétrica geraria total e completo caos social. Basta ver o aumento de crimes cometidos toda vez que acontece um apagão. Mas a dependência da eletricidade vai muito além da escuridão. Não haveria bancos funcionando ou a possibilidade de usar cartões de crédito. Um hospital sem eletricidade é apenas um amontoado de doentes e médicos desesperados. Até outra forma de energia seria afetada -são bombas elétricas que abastecem os automóveis.
Tudo isso basta para mostrar a importância do tema. O autor descreve como foi a descoberta dos fenômenos elétricos e a sua incorporação a tecnologias, com histórias de alguns dos "heróis" envolvidos.

Pioneiros elétricos
É o caso de Alexander Graham Bell (1847-1922), inventor do telefone; Thomas Alva Edison (1847-1931), inventor do fonógrafo e da lâmpada de longa duração; Alan Turing (1912-1954), pioneiro da computação, ou Michael Faraday (1791-1867), pioneiro do estudo do eletromagnetismo. Um dos aspectos mais interessantes do livro é mostrar os caminhos distintos da descoberta científica e da inovação tecnológica. Nem sempre andam lado a lado.
Edison, por exemplo, não tinha muita noção da ciência básica por trás de seus inventos. E os próprios cientistas, "por mais independentes que se considerassem", eram influenciados pela tecnologia em volta. Se a idéia de pane na rede elétrica se estendesse a toda forma de eletricidade, seria a própria vida que seria impossível.