São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Quero ser grande

Com série policial na Globo e duas comédias no cinema, entre elas "Os Normais 2", José Alvarenga Jr. desponta como uma nova estrela da direção

Rafael Andrade/Folha Imagem
José Alvarenga Jr., diretor da série policial "Força-Tarefa"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

São 20h40 quando o diretor José Alvarenga Jr. termina de falar à Folha. Precisa correr para a ilha de edição de "Força-Tarefa", série policial que a TV Globo estreia no dia 16. Na mesma noite ainda irá a uma produtora ver os efeitos especiais de "Os Normais 2", filme com lançamento em agosto.
Às 8h da manhã seguinte já estará comandando uma perseguição de caminhões para "Força-Tarefa". Um dia depois, participará em São Paulo de uma pré-estreia de seu longa-metragem "Divã", em cartaz a partir do dia 17 deste mês.
A linha de chegada deste triatlon pode ser a transformação em nome popular de um carioca de 48 anos que o grande público mal conhece. Ele é dos poucos que podem, em 2009, fazer sombra nas bilheterias a um de seus mestres, Daniel Filho, por enquanto absoluto com os 5,8 milhões de espectadores de "Se Eu Fosse Você 2".
"Quando eu filmei o "Divã", fiz "Os Normais 2" e apostei no "Força-Tarefa", imaginei que teria um upgrade na minha carreira. Foi consciente. Estou me empenhando porque acredito que vá ser bom lá na frente. Mas, se esse é o preço do sucesso, é um preço caro", diz.
O "lá na frente" é, "se o Brasil permitir", poder fazer apenas cinema "ou TV com mais calma". Por enquanto, faz tudo ao mesmo tempo, mas não como um diretor da Globo que se arrisca no cinema, pois seu caminho foi o inverso.

Cinema desde sempre
"Não há um chiclete, uma bala que eu tenha comido que não tenha vindo do cinema", afirma ele, cujo pai dirigiu o laboratório Líder e lutou pela consolidação de uma indústria cinematográfica no país.
Mesmo na faculdade de jornalismo ou no curso do teatro Tablado, Alvarenga pensava em fazer filmes. Do trabalho com Carlos Manga em comerciais pulou, nos anos 80, para a assistência de Nelson Pereira dos Santos, Ivan Cardoso e Luiz Carlos Lacerda em longas.
Quando foi colaborar com J.B. Tanko em "Os Fantasmas Trapalhões", em 1987, encantou Renato Aragão e emendou cinco direções dos Trapalhões:
"Eles sabiam que tinham um público esperando um filme todo julho e todo janeiro. Foi meu primeiro contato com o cinema comercial. Ganhei a consciência de que o cliente é o dono do trabalho. Mas você pode contrabandear coisas. Sempre fui um contrabandista artístico."
Sua estreia na Globo foi com "A Justiceira", em 1997, a convite de Daniel Filho. Conquistou o sucesso com "Os Normais", a partir de 2001, e "A Diarista", entre 2003 e 2007. Desenvolveu projetos não convencionais, como "Os Aspones" (2004) e "Os Amadores" (2005), e acredita ter realizado "pequenas revoluções" num meio em que audiência é a lei.
"Se o que eu estou dirigindo não for interessante pra mim, eu não estou sendo sincero com a minha sensibilidade. Popularesco é quando passa a não ter essa sinceridade", afirma ele, caso raro na Globo de diretor independente que nunca fez novelas.

Corrupções cotidianas
"Força-Tarefa" é o retorno da emissora às séries policiais após 12 anos -desde "A Justiceira". Ocupa o espaço que poderia ser de "Tropa de Elite", mas o projeto de uma sequência do filme acabou inviabilizando o seriado.
Os roteiristas Marçal Aquino e Fernando Bonassi sugeriram criar histórias sobre uma equipe da polícia reservada do Rio, aquela que investiga e caça os próprios policiais. Tenente Wilson (Murilo Benício) é um legalista que não admite sequer que a namorada compre bolsa de camelô ou CD pirata.
"A gente fica na divagação da grande corrupção, mas essa não é para nós. A dos milhões que se perdem nas estatais, das obras que não são concluídas, dessa a gente já cansou, porque não passa no nosso dia-a-dia. Mas as corrupções cotidianas, da pirataria, da multa, da blitz, passam. Acho que esse é o barato do programa", diz Alvarenga, que ressalta o "impacto visual" da série, com um custo "200%" maior do que o de uma comédia de costumes.
Ele credita à sua paixão por qualquer gênero de cinema o fato de se dividir entre um "programa macho, viril", um "filme feminino" como "Divã", uma "comédia doida" como "Os Normais 2" e ainda um filme com "linguagem de YouTube" como "Cilada.com", que deve ser rodado em novembro.
"Mas o diretor é igual. Eu grito com a Lilia [Cabral, de "Divã'] como grito com o Murilo, trato com carinho a Lilia como trato com carinho o Murilo", avisa.


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