São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Piadas de salão

Saem no Brasil coletâneas de cartuns da revista norte-americana "The New Yorker'; primeiros números são sobre cães, gatos e terapia

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A revista norte-americana "The New Yorker" celebrizou-se, principalmente entre intelectuais e jornalistas, por dar projeção ao badalado "new journalism" -estilo narrativo que mistura reportagem investigativa e literatura.
Mas, desde seu lançamento, em fevereiro de 1925, quem vem realmente divertindo os leitores de modo geral são os bem-humorados e sofisticados cartuns que dão identidade visual à publicação, também voltada a ensaios, ficção e crítica.
"Eles são essenciais à "New Yorker". É o que todo mundo lê primeiro. O fermento para cada número. Também garantem que, mesmo no mais pesado dos textos, haverá chance para uma gargalhada", disse em entrevista à Folha, o editor-chefe da publicação, David Remnick.
No próximo dia 9 de abril, chegam às livrarias do Brasil três coletâneas temáticas desses desenhos -"Terapia", "Gatos" e "Cachorros", que saem pela editora Desiderata.
Apesar de a revista lançar os melhores de cada ano desde 1928 e de, nos últimos tempos, fazer também edições divididas por assunto, esta é a primeira vez que os cartuns são publicados em português.
As introduções dos três livros e a tradução das legendas são do jornalista Sérgio Augusto, há tempos um fã da revista.
"Os cartuns são para a "New Yorker" o que as coelhinhas são para a "Playboy'", sintetiza.
Como é possível ver nos exemplos desta página, a graça dos desenhos está no habilidoso traço dos artistas e no fato de tratarem de temas e paranoias urbanos e contemporâneos, sempre a partir de um ponto de vista nova-iorquino.
"Nova York é a síntese da "cosmópolis" moderna, com seus arranha-céus e neuroses típicos", diz Sérgio Augusto.
Em linhas gerais, essas características permanecem as mesmas desde a criação da revista, por Harold Ross.
As piadas trazem legendas ou frases curtas, para que o desenho seja o principal responsável pela graça e que dependa pouco ou nada de um texto que o acompanhe.
Nesse ponto, o jornalista diz ter encontrado dificuldades. "O inglês é curto e direto, enquanto o português tem palavras mais longas. Às vezes é difícil atingir a concisão e o humor ao mesmo tempo", explica.
Remnick conta que há, ainda, um cuidado para que os cartuns não sejam editados em meio a textos com os quais possam se confundir. "A ideia é tentar evitar um desagradável eco de um no outro."

História implícita
Remnick considera possível compreender a história dos EUA no século 20 por meio dos cartuns, mas sempre de modo indireto. "Os acontecimentos estão lá, mas os desenhos não podem ser tomados como crônica política. Ainda assim, você certamente pode sentir, implicitamente, as reações das pessoas em diferentes momentos do nosso passado recente. Dá para perceber, por exemplo, a Depressão, a Segunda Guerra Mundial, os anos 60, o Watergate, Bush até os dias de hoje. De certo modo, refletem o diálogo dos leitores com o tempo em que vivem", conclui.

Mulheres
Em julho, a mesma editora lançará os volumes "Médicos", "Advogados" e "Dinheiro". Para o ano que vem, está prevista a publicação de uma coletânea de cartuns feitos por mulheres, sobre relacionamentos.
Quem quiser fugir do suporte tradicional pode dar uma conferida no site da revista (www.newyorker.com), que traz animações baseadas nos cartuns. "São divertidas e carregam o internauta para a revista. Pessoalmente, porém, ainda acho o original impresso insuperável", diz Remnick.


THE NEW YORKER CARTOONS - CACHORROS, GATOS E TERAPIA
Tradução e prefácio: Sérgio Augusto
Lançamento: Desiderata
Quanto: R$ 49,90 (96 págs.), cada volume



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