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Piadas de salão
Saem no Brasil coletâneas de cartuns da revista norte-americana "The New Yorker'; primeiros números são sobre cães, gatos e terapia
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A revista norte-americana
"The New Yorker" celebrizou-se, principalmente entre intelectuais e jornalistas, por dar
projeção ao badalado "new
journalism" -estilo narrativo
que mistura reportagem investigativa e literatura.
Mas, desde seu lançamento,
em fevereiro de 1925, quem
vem realmente divertindo os
leitores de modo geral são os
bem-humorados e sofisticados
cartuns que dão identidade visual à publicação, também voltada a ensaios, ficção e crítica.
"Eles são essenciais à "New
Yorker". É o que todo mundo lê
primeiro. O fermento para cada
número. Também garantem
que, mesmo no mais pesado
dos textos, haverá chance para
uma gargalhada", disse em entrevista à Folha, o editor-chefe
da publicação, David Remnick.
No próximo dia 9 de abril,
chegam às livrarias do Brasil
três coletâneas temáticas desses desenhos -"Terapia", "Gatos" e "Cachorros", que saem
pela editora Desiderata.
Apesar de a revista lançar os
melhores de cada ano desde
1928 e de, nos últimos tempos,
fazer também edições divididas por assunto, esta é a primeira vez que os cartuns são
publicados em português.
As introduções dos três livros e a tradução das legendas
são do jornalista Sérgio Augusto, há tempos um fã da revista.
"Os cartuns são para a "New
Yorker" o que as coelhinhas são
para a "Playboy'", sintetiza.
Como é possível ver nos
exemplos desta página, a graça
dos desenhos está no habilidoso traço dos artistas e no fato
de tratarem de temas e paranoias urbanos e contemporâneos, sempre a partir de um
ponto de vista nova-iorquino.
"Nova York é a síntese da
"cosmópolis" moderna, com
seus arranha-céus e neuroses
típicos", diz Sérgio Augusto.
Em linhas gerais, essas características permanecem as
mesmas desde a criação da revista, por Harold Ross.
As piadas trazem legendas
ou frases curtas, para que o desenho seja o principal responsável pela graça e que dependa
pouco ou nada de um texto que
o acompanhe.
Nesse ponto, o jornalista diz
ter encontrado dificuldades. "O
inglês é curto e direto, enquanto o português tem palavras
mais longas. Às vezes é difícil
atingir a concisão e o humor ao
mesmo tempo", explica.
Remnick conta que há, ainda, um cuidado para que os cartuns não sejam editados em
meio a textos com os quais possam se confundir. "A ideia é
tentar evitar um desagradável
eco de um no outro."
História implícita
Remnick considera possível
compreender a história dos
EUA no século 20 por meio dos
cartuns, mas sempre de modo
indireto. "Os acontecimentos
estão lá, mas os desenhos não
podem ser tomados como crônica política. Ainda assim, você
certamente pode sentir, implicitamente, as reações das pessoas em diferentes momentos
do nosso passado recente. Dá
para perceber, por exemplo, a
Depressão, a Segunda Guerra
Mundial, os anos 60, o Watergate, Bush até os dias de hoje.
De certo modo, refletem o diálogo dos leitores com o tempo
em que vivem", conclui.
Mulheres
Em julho, a mesma editora
lançará os volumes "Médicos",
"Advogados" e "Dinheiro". Para o ano que vem, está prevista
a publicação de uma coletânea
de cartuns feitos por mulheres,
sobre relacionamentos.
Quem quiser fugir do suporte
tradicional pode dar uma conferida no site da revista
(www.newyorker.com), que
traz animações baseadas nos
cartuns. "São divertidas e carregam o internauta para a revista. Pessoalmente, porém,
ainda acho o original impresso
insuperável", diz Remnick.
THE NEW YORKER CARTOONS -
CACHORROS, GATOS E
TERAPIA
Tradução e prefácio: Sérgio Augusto
Lançamento: Desiderata
Quanto: R$ 49,90 (96 págs.), cada
volume
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