São Paulo, terça-feira, 05 de abril de 2011

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16º É TUDO VERDADE

CRÍTICA

Maniqueísmo enfraquece denúncia em "Carne, Osso"

Documentário mostra condições de trabalho nos frigoríficos brasileiros

LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO

Num frigorífico da região Sul, funcionários têm 15 segundos para desossar uma perna de frango. São 12 cortes e mais seis movimentos. Em média, nessas indústrias de abate, são realizados entre 80 e 120 movimentos por minuto -número muito superior ao que estudos médicos cravam como ideal para resguardar a saúde dos trabalhadores.
Foi a rotina de frigoríficos do Brasil que serviu de alvo para o documentário "Carne, Osso", de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, selecionado para o festival É Tudo Verdade, em cartaz no Rio e em São Paulo.
Obra da ONG Repórter Brasil, que busca "identificar e tornar públicas situações que ferem direitos trabalhistas", o filme retrata as condições de trabalho em que funcionários realizam movimentos repetitivos (que causam lesões), manuseiam facas e serras sem segurança e são submetidos a forte pressão.
Depoimentos levantam estruturas precárias, sobrecarga de trabalho e uma rotina na qual incide grande porcentagem de risco de traumatismos e transtornos mentais -cerca de três vezes mais do que é registrado em outros segmentos.
Se por um lado é válido mostrar esse cenário, em imagens repetitivas (como em qualquer indústria) e no resgate de histórias de trabalhadores com problemas físicos e psíquicos, por outro o documentário mostra-se maniqueísta, numa tentativa de expor a "indústria do mal" que existe por trás dos frigoríficos.
Empresas de abate de aves, bovinos e suínos são criminalizadas de forma parcial, sem voz. Enquanto isso, o poder público é tratado com condescendência.
Fala-se em uma "posição firme" do Tribunal Superior do Trabalho para "combater essas condutas", mas não se mostra, efetivamente, o que tem sido feito para mudar o cenário apresentado.
Diz-se que o objetivo do Ministério do Trabalho e do Ministério Público é "conscientizar as empresas de que precisam introduzir pausas e diminuir o ritmo".
Mas em nenhum momento trata-se com profundidade da falta de fiscalização e da postura ativa do governo em relação às questões já diagnosticadas.

CARNE, OSSO

DIREÇÃO Caio Cavechini, Carlos Juliano Barros
QUANDO hoje, às 15h, no Cine Livraria Cultura
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular


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