São Paulo, Segunda-feira, 05 de Abril de 1999
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ANÁLISE
Desenhos feitos por crianças grandes

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

A invasão dos desenhos animados "para adultos" que infesta a TV americana -e mundial- nesta década é decorrência natural da formação dos malucos que estão tendo chance de mostrar seus personagens ao planeta.
Desde os anos 40, auge criativo dos estúdios de animação da Warner, os criadores de desenhos eram adultos que buscavam referências infantis para bolar seus trabalhos.
Agora, os responsáveis por Beavis, Butt-Heads, Barts e amigos são crianças grandes, que não precisaram amadurecer. Trabalham com animação desde a adolescência e nunca tiveram a preocupação de encarar a "vida adulta".
Resultado: a estupidez sem barreiras de "Beavis & Butt-Head", a família virada de ponta-cabeça chamada "Simpsons", a boçalidade de "O Rei do Pedaço" e a fúria agressiva de "South Park".
A morte é banalizada ao extremo -e Kenny é o símbolo dessa banalização, morrendo em todos os episódios de "South Park".
O sexo está no topo das prioridades, seja para os virgens Beavis e Butt-Head ou para os garotos de "South Park", mais virgens ainda. Não sabem o que fazer com as mulheres, mas falam delas o tempo inteiro. Já o personagem principal de "O Rei do Pedaço" fala delas como um erro da natureza.
O julgamento desses desenhos revela diferenças. "Simpsons" é genial, radiografia implacável da família. Matt Groening domina como poucos o absurdo do homem.
"Beavis & Butt-Head" teve graça no primeiro ano, caindo na armadilha dos roteiros fracos.
"O Rei do Pedaço" mostra mais ou menos o que seria um Beavis adulto, e a coisa só piora.
"South Park" tem uma estética gráfica revolucionária, mas fica perdido em sua iconoclastia.
Por tudo isso, divertido mesmo é "A Vaca e o Frango".


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