São Paulo, Segunda-feira, 05 de Abril de 1999
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TELEVISÃO
Nanini continua dormindo em "Andando..."

TELMO MARTINO

Colunista da Folha

Não é certo que Euclydes Marinho, autor da novela "Andando nas Nuvens", tenha beliscado Washington Irving para lhe pedir emprestado seu personagem Rip van Winkle e transformá-lo no sonolento Otávio que Marco Nanini interpreta atualmente.
Ambos dormiram durante 20 anos e, quando acordaram, ficaram igualmente atordoados com as novidades do mundo.
Talvez Marinho tenha tido a idéia ao imaginar como Marco Nanini se sentiu quando soube que podia acordar do longo e agitado sono que foi aquele põe-e-tira de uma interminável convivência com a Irma Vap e seu mistério.
A novela está coalhada de personagens, mas quase todos não conseguem sair de uma marginalidade. Não entram na trama. O desmemoriado Otávio não se lembra de ninguém. Só da Eva que foi sua mulher. Pelo jeito, ela também foi a paixão do vilão San Marino (Cláudio Marzo), que tem numa parede um retrato pintado. Isso mesmo. Eva é como a Itabira do poeta Drummond. Um retrato na parede. E como enche.
Otávio, aliás, nem soube despertar de seu longo sono. A primeira pessoa que viu foi a lindíssima Helena Ranaldi, uma imagem capaz de colocar, com o perdão de Adão, qualquer Eva no esquecimento. Otávio acorda do espanto ao conhecer o videocassete e só. O vilão Marzo tem tempo de sobra. O Soneca só vê travesseiro!
Muito mais esperto, o repórter Marcos Palmeira pode estar com o dorminhoco na pauta, mas está muito acordado. É um ator em constante evolução. Conseguiu se livrar dos vestígios de caipirice e está um William Holden dos bons tempos. Se vivo fosse, Billy Wilder exigiria exclusividade.
Débora Bloch, aclamada por sua beleza esfuziante, não é mais do que uma Jean Arthur para o Holden de Marcos Palmeira.
Até Marcelo Novaes foi engolido. Ele apela para o short e o peito nu, mas ninguém mais está vendo. Os dois trabalham no mesmo jornal popular. Uma visita à redação sempre rende. Muito menos pela grossura do Hugo Carvana, muito mais pela vontade do gordinho Antônio Pedro de ser ator. De gravata borboleta, paletó e cabelo curtíssimo, ele fala francês, cita Zózimo e Ibrahim. Está no ponto para estrelar um "talk-show" no começo da madrugada.
A abertura da novela é uma elegância. No nível do "Samba do Avião". Além de uma gandaia ou outra, as moças estão muito devagar. Talvez com medo de um corte, Eliane Giardini dançou tango com o Taumaturgo Ferreira. Não foi à toa que, ao passar pelo Cassino da Urca, Nanini sentiu saudade do Grande Teatro da TV Tupi.


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