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TELEVISÃO
Nanini continua dormindo em "Andando..."
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Não é certo que Euclydes Marinho, autor da novela "Andando
nas Nuvens", tenha beliscado
Washington Irving para lhe pedir
emprestado seu personagem Rip
van Winkle e transformá-lo no sonolento Otávio que Marco Nanini
interpreta atualmente.
Ambos dormiram durante 20
anos e, quando acordaram, ficaram igualmente atordoados com
as novidades do mundo.
Talvez Marinho tenha tido a
idéia ao imaginar como Marco
Nanini se sentiu quando soube
que podia acordar do longo e agitado sono que foi aquele põe-e-tira de uma interminável convivência com a Irma Vap e seu mistério.
A novela está coalhada de personagens, mas quase todos não
conseguem sair de uma marginalidade. Não entram na trama. O
desmemoriado Otávio não se lembra de ninguém. Só da Eva que foi
sua mulher. Pelo jeito, ela também foi a paixão do vilão San Marino (Cláudio Marzo), que tem
numa parede um retrato pintado.
Isso mesmo. Eva é como a Itabira
do poeta Drummond. Um retrato
na parede. E como enche.
Otávio, aliás, nem soube despertar de seu longo sono. A primeira
pessoa que viu foi a lindíssima
Helena Ranaldi, uma imagem capaz de colocar, com o perdão de
Adão, qualquer Eva no esquecimento. Otávio acorda do espanto
ao conhecer o videocassete e só. O
vilão Marzo tem tempo de sobra.
O Soneca só vê travesseiro!
Muito mais esperto, o repórter
Marcos Palmeira pode estar com
o dorminhoco na pauta, mas está
muito acordado. É um ator em
constante evolução. Conseguiu se
livrar dos vestígios de caipirice e
está um William Holden dos bons
tempos. Se vivo fosse, Billy Wilder
exigiria exclusividade.
Débora Bloch, aclamada por
sua beleza esfuziante, não é mais
do que uma Jean Arthur para o
Holden de Marcos Palmeira.
Até Marcelo Novaes foi engolido. Ele apela para o short e o peito
nu, mas ninguém mais está vendo. Os dois trabalham no mesmo
jornal popular. Uma visita à redação sempre rende. Muito menos pela grossura do Hugo Carvana, muito mais pela vontade do
gordinho Antônio Pedro de ser
ator. De gravata borboleta, paletó
e cabelo curtíssimo, ele fala francês, cita Zózimo e Ibrahim. Está
no ponto para estrelar um "talk-show" no começo da madrugada.
A abertura da novela é uma elegância. No nível do "Samba do
Avião". Além de uma gandaia ou
outra, as moças estão muito devagar. Talvez com medo de um corte, Eliane Giardini dançou tango
com o Taumaturgo Ferreira. Não
foi à toa que, ao passar pelo Cassino da Urca, Nanini sentiu saudade do Grande Teatro da TV Tupi.
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