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Solidão está "matando" mulheres com Aids
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Uma pesquisa qualitativa feita
com mulheres paulistanas com
HIV ou Aids mostrou que os sentimentos mais comuns entre elas
são a solidão, a tristeza e a sensação de desamparo. A combinação
desses sentimentos pode levar à
depressão e ao consequente abandono do tratamento e dos cuidados com a saúde.
Esses sentimentos não são exclusivos de mulheres com Aids,
mas acaba provocando mais dano entre elas. Em alguns casos, a
eficácia do coquetel acaba anulada pelo seu estado emocional.
A pesquisa sobre os sentimentos foi realizada pela Rede Paulista de Mulheres Vivendo com
HIV-Aids, da qual fazem parte
quase cem mulheres. No ano passado, nenhuma morte foi registrada no grupo. Neste ano, duas
mulheres morreram. "As duas estavam passando por uma situação difícil, tinham filhos, estavam
sem trabalho", diz Elisabete Franco Cruz, psicóloga do GIV (Grupo
de Incentivo à Vida) e da Rede
Paulista. "A sociedade está oferecendo o remédio, mas ainda não
oferece o apoio necessário."
Muitas mulheres relatam que
escondem a doença da família e
dos amigos. Para não serem identificadas no trabalho, algumas
chegam a tomar os medicamentos sem água.
Teresinha Martins, 33, coordenadora da Rede de Mulheres e ela
própria portadora do HIV, diz
que a maioria das participantes
está desempregada e se queixa de
dificuldades nos relacionamentos. "O coquetel de remédios mudou a vida das pacientes, mas a
solidão e a depressão podem ser
tornar uma nova ameaça."
A morte da atriz Sandra Bréa
com certeza trará de volta a relação "Aids e morte" que prevaleceu até a chegada do coquetel. Há
vários anos a doença não fazia
uma vítima conhecida do grande
público. Sandra tinha à disposição o que a medicina pode oferecer de melhor, o que significa que
não lhe faltou remédio nem assistência médica.
"Quando se sente pertencendo
a um grupo, você tem mais disposição para reagir", diz a psicóloga
Elisabete Cruz.
Dos 179.541 casos de Aids notificados no país desde o início da
epidemia , 44.151 são de mulheres.
No Estado de São Paulo -onde
estão 55% dos doentes- existem
32.708 pessoas recebendo medicamentos contra a Aids.
Por conta do remédio, as mortes pela doença caíram 41% entre
1996 e 1998. No CRT-Aids -Centro de Referência e Treinamento
da Secretaria de Estado da Saúde- a queda foi de 74%.
"A redução da mortes vem
ocorrendo igualmente entre homens e mulheres", diz José Valdez
Madruga, médico do CRT-Aids.
As mulheres, no entanto, são as
últimas a começar o tratamento.
"Raramente elas fazem um teste
espontâneo", diz o médico. "Na
maioria das vezes, só desconfia da
infecção quando o companheiro
cai doente ou quando fica grávida. E o sucesso do tratamento depende de quando é iniciado."
Rede de Mulheres: 0/xx/11/5084-0255
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