São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2000


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Solidão está "matando" mulheres com Aids

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Uma pesquisa qualitativa feita com mulheres paulistanas com HIV ou Aids mostrou que os sentimentos mais comuns entre elas são a solidão, a tristeza e a sensação de desamparo. A combinação desses sentimentos pode levar à depressão e ao consequente abandono do tratamento e dos cuidados com a saúde.
Esses sentimentos não são exclusivos de mulheres com Aids, mas acaba provocando mais dano entre elas. Em alguns casos, a eficácia do coquetel acaba anulada pelo seu estado emocional.
A pesquisa sobre os sentimentos foi realizada pela Rede Paulista de Mulheres Vivendo com HIV-Aids, da qual fazem parte quase cem mulheres. No ano passado, nenhuma morte foi registrada no grupo. Neste ano, duas mulheres morreram. "As duas estavam passando por uma situação difícil, tinham filhos, estavam sem trabalho", diz Elisabete Franco Cruz, psicóloga do GIV (Grupo de Incentivo à Vida) e da Rede Paulista. "A sociedade está oferecendo o remédio, mas ainda não oferece o apoio necessário."
Muitas mulheres relatam que escondem a doença da família e dos amigos. Para não serem identificadas no trabalho, algumas chegam a tomar os medicamentos sem água.
Teresinha Martins, 33, coordenadora da Rede de Mulheres e ela própria portadora do HIV, diz que a maioria das participantes está desempregada e se queixa de dificuldades nos relacionamentos. "O coquetel de remédios mudou a vida das pacientes, mas a solidão e a depressão podem ser tornar uma nova ameaça."
A morte da atriz Sandra Bréa com certeza trará de volta a relação "Aids e morte" que prevaleceu até a chegada do coquetel. Há vários anos a doença não fazia uma vítima conhecida do grande público. Sandra tinha à disposição o que a medicina pode oferecer de melhor, o que significa que não lhe faltou remédio nem assistência médica.
"Quando se sente pertencendo a um grupo, você tem mais disposição para reagir", diz a psicóloga Elisabete Cruz.
Dos 179.541 casos de Aids notificados no país desde o início da epidemia , 44.151 são de mulheres. No Estado de São Paulo -onde estão 55% dos doentes- existem 32.708 pessoas recebendo medicamentos contra a Aids.
Por conta do remédio, as mortes pela doença caíram 41% entre 1996 e 1998. No CRT-Aids -Centro de Referência e Treinamento da Secretaria de Estado da Saúde- a queda foi de 74%.
"A redução da mortes vem ocorrendo igualmente entre homens e mulheres", diz José Valdez Madruga, médico do CRT-Aids.
As mulheres, no entanto, são as últimas a começar o tratamento. "Raramente elas fazem um teste espontâneo", diz o médico. "Na maioria das vezes, só desconfia da infecção quando o companheiro cai doente ou quando fica grávida. E o sucesso do tratamento depende de quando é iniciado."


Rede de Mulheres: 0/xx/11/5084-0255


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