São Paulo, sábado, 05 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"CHATÔ"

Cineastas dizem que não podem julgar Fontes e que projeto pode ter servido para aperfeiçoar a Lei do Audiovisual

Filme é tratado como "questão privada"

Leo Correa/Agência "O Dia"
Marco Ricca e Letícia Sabatella em cena de "Chatô", mais cara produção nacional, inconclusa


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Isso é notícia de uma guerra particular. Não acho que Guilherme Fontes seja o bode expiatório do cinema brasileiro, mas ele também não está com essa bola toda para entrar na avaliação da política do cinema nacional", diz o cineasta Sérgio Rezende ("Quase Nada"), a respeito das declarações do ator Guilherme Fontes sobre a gestão do audiovisual brasileiro, publicadas em entrevista, ontem, na Folha.
Com o maior orçamento da cinematografia nacional, R$ 13,141 milhões captados, o filme "Chatô" já foi para os diretores brasileiros a curiosidade (por seu resultado), a chacota (pela inconclusão) e o temor (pelos possíveis efeitos em queda de patrocínio).
Interrompido desde 99, o projeto de Guilherme Fontes hoje parece incomodar pouco os cineastas. "Acho uma pena que o filme não esteja pronto. Mas, na história do cinema, um filme parar não é inédito. Estou fora desse negócio de fazer de uma pessoa um bode expiatório. Não contem comigo. Os problemas do cinema brasileiro são muito mais profundos e suas dificuldades, muito maiores", acrescenta Rezende.
"O imbróglio "Chatô" é o único ou é um boi-de-piranha? Você tem os dados de todos os filmes; de todos os valores liberados pela lei? Como vou saber se é só uma rusga? Não posso ser contra ou a favor de um colega se não tenho os elementos para julgar", afirma o diretor Sergio Bianchi ("Cronicamente Inviável").
O cineasta Jorge Furtado diz que "talvez esse episódio tenha servido para que houvesse maior rigor no cumprimento dos orçamentos, na fiscalização da destinação dos recursos das leis, que, afinal, são públicos".
Furtado discorda da avaliação de Fontes de que a política audiovisual brasileira seja um fracasso. "O governo substituiu um sistema paternalista, do Estado, que era a Embrafilme, por outro que tem pontos positivos, mas tem também o aspecto negativo de abrir mão de uma política cultural mais direta. Quer dizer, ele delega às empresas a decisão sobre o que produzir, sobre que tipo de filme será feito. Mas acho que a quantidade, a constância e a qualidade crescente da produção não apontam um fracasso."
Bianchi diz que não se "sente bem" no atual sistema de leis de incentivo. "Na decisão do que é feito com o dinheiro público, valem mecanismos de simpatias, conexões, relacionamentos. Todo o cinema, exceto o hollywoodiano, é subsidiado no mundo. Mas deve haver regras de qualidade do produto, capacitação profissional, cota para estreantes."
Rezende diz que os problemas de "Chatô" são hoje "questão privada, dos investidores". "Uma grande parte das coisas que aconteceram com esse filme evidentemente não deveria ter acontecido, mas sobre isso há uma grande responsabilidade do MinC, e nem é da gestão atual da Secretaria do Audiovisual, porque ele foi autorizado a captar na gestão anterior. Dar para uma pessoa que está estreando o projeto mais caro da história do cinema é um risco que alguém assumiu", diz.



Texto Anterior: Da Rua - Fernando Bonassi: Eutanásia
Próximo Texto: Entenda o caso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.