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São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2003

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Criador do gato preguiçoso da HQ diz que gosta das segundas-feiras e que o trabalho nunca o assustou

Garfield, o carioca

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Vinte e cinco anos de vida mansa, comendo do bom e do melhor, dormindo até tarde e, de quebra, recebendo o agrado de milhões de fãs no mundo inteiro. Garfield, o gato, não faz nada para merecer isso, mas alguém tem que botar a mão na massa por ele -e não se trata de uma travessa de lasanha.
"Também não sou muito chegado a um cooper, mas gosto das segundas-feiras. Tendo nascido e sido criado em uma fazenda, sempre adorei acordar cedo para fazer as tarefas do dia, o trabalho nunca me assustou", diz Jim Davis, 57, criador das tirinhas do gato publicadas pela primeira vez em 19 de junho de 1978.
De lá para cá, Garfield já igualou Snoopy e é hoje a tira dos EUA de maior distribuição mundial, com publicação em 111 países, venceu quatro Emmys de desenho animado e, no final deste ano, deve chegar finalmente aos cinemas.
Publicadas diariamente na Ilustrada, as tiras de Garfield e seu fiel dono, Jon Arbuckle, têm sua longa vida sustentada num simples binômio: comer e dormir, tão felino quanto humano. "As pessoas se vêem nas tiras. Todo mundo é um pouco preguiçoso e gosta de comer aquele tantinho a mais. No meu caso, acabei de sair de uma dieta e, quando isso acontece, coloco Garfield de dieta também", confessa "Big Guy" Davis, como o desenhista é conhecido em seu estúdio, Paws Inc., e que em sua última luta contra a balança deixou 15 kg para trás -dos usuais 105 kg para 90 kg.
"Os grandes humoristas sempre lidaram com relacionamentos pessoais", defende Davis, seguidor dos ensinamentos de Charles Schulz, Mort Walker - "nós dois somos chamados de cartunistas dos pés grandes"- e fã declarado do brasileiro Maurício de Sousa. "Ele é maravilhoso. Acho "Mônica" uma das melhores tiras do mundo. Ela não é só uma garotinha, ela é todo mundo. É uma personagem muito sólida não apenas no traço mas na escrita."
Em um acordo com a Davis Entertainment ("Dr. Doolittle") e a Fox ("X-Men", "Homem-Aranha" etc.), o gato de Jon vai contracenar pela primeira vez com atores de verdade, em sua estréia nas telonas programada para 19 de dezembro deste ano.
Supervisionada de perto por Jim Davis, a adaptação cinematográfica de Garfield, único do filme que será totalmente criado por computador, já tem no elenco a presença garantida dos humanos Breckin Meyer, como Jon, e Jennifer Love-Hewitt, como a personagem Liz. Usando uma tecnologia semelhante à do recente "Scooby-Doo", a produção tem ainda roteiro do "Toy Story" Joel Cohen e direção de Peter Hewitt.
"Acabou a fase de fotografia. Agora é que vai começar o mais difícil: criar Garfield em um computador e fazê-lo atuar como um animal vivo. Será certamente a versão mais realista dele."
Aproveitando o embalo das adaptações dos super-heróis da Marvel? "Nada, já fizemos numa época umas histórias de Garfield e [o cãozinho" Odie como super-heróis, mas a indústria dos quadrinhos hoje não é mais tão forte quanto já foi. O Garfield não funciona muito bem numa revista de quadrinhos", analisa o cartunista, que, garante, jamais pensou em matar o gato.
"Ainda sinto que estou só começando, sempre acho que num dia desses ainda acerto a mão. Lidar com humor é sempre um desafio, você nunca está completamente satisfeito com o que está fazendo. O segredo é estar sempre trocando de chapéu, trabalhando numa semana com as tirinhas, em outra com o filme, em outra com projetos de licenciamento etc.", conta Davis, que, entre outros lugares bizarros, já viu seu personagem estampado até em palitos de comida japonesa. Por aqui, seria o "registro de cidadania": "O Brasil sempre teve uma boa relação com o Garfield, talvez pelo amor às coisas boas da vida. Soube até que sou considerado carioca no Rio".



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