São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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SHOW

Músico toca na 5ª edição do Chivas Jazz, que começa hoje em SP e no Rio

Estilista da bateria, Louis Hayes apresenta "hard bop"

Divulgação
O baterista americano Louis Hayes, que se apresenta amanhã na versão paulista do Chivas Jazz


CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Paulistas e cariocas que apreciam o jazz têm quatro noites bem atraentes pela frente. Começa hoje o 5º Chivas Jazz Festival, que oferece várias atrações inéditas no Brasil, em programação simultânea de shows no DirecTV Music Hall (São Paulo) e na Marina da Glória (Rio).
Quem abre o festival, na capital paulista, é o pianista Andrew Hill, um dos compositores mais criativos em atividade na cena desse gênero. Desde a década de 60, quando gravou para o selo Blue Note uma série de álbuns inovadores, esse norte-americano vem estabelecendo um original diálogo entre a linguagem moderna do bebop e os procedimentos vanguardistas do chamado "free jazz".
O bebop do genial Charlie Parker (1920-1955) também marcou o estilo personalíssimo de Sheila Jordan, veterana cantora que encerra a noite de hoje. Especialista na arte do "scat" (improviso vocal com onomatopéias), ela recria baladas e standards jazzísticos, ao lado do ótimo trio do pianista Steve Kuhn.
Há mais jazz moderno no programa de amanhã, em São Paulo, que começa com o quarteto do saxofonista Bud Shank -expoente da geração "cool" dos anos 50, que influenciou a bossa nova. Quem fecha essa noite é o cultuado baterista Louis Hayes, 66, que lidera uma banda criada para render tributo a um dos jazzistas mais populares dos anos 60: o saxofonista Cannonball Adderley (1928-1975).
"Em minha carreira tive o prazer de aparecer em muitas gravações, ao lado de grandes músicos, como Horace Silver, Oscar Peterson e John Coltrane, mas com Cannonball eu vivi um período muito especial na minha vida", disse Hayes à Folha, por telefone, de Nova York, justificando a contínua homenagem que vem fazendo ao ex-parceiro desde a gravação do CD "Dreamin" of Cannonball", em 2002.
Nesse álbum, Hayes e sua Cannonball Adderley Legacy Band recriam clássicos do "hard bop" e do soul-jazz, que herdaram a marca do popular saxofonista, como "Dat There" (de Bobby Timmons) e "Work Song" (de Nat Adderley, trompetista e irmão de Cannonball). Mesmo assim, Hayes prefere não antecipar o repertório de seus shows no Brasil.
"Em geral, tocamos música da época em que eu estive com Cannonball e Nat Adderley, de 1959 a 1965, mas nosso programa muda um pouco a cada show. Gosto de manter uma certa surpresa", diz o baterista.
Dois músicos mais jovens e bastante talentosos, que integram o quinteto de Hayes, costumam disputar com ele as atenções da platéia: o saxofonista Vincent Herring, 39, e o trompetista Jeremy Pelt, 28.
"Eles conhecem muito bem a música da era Cannonball. Ninguém poderia fazer melhor esse trabalho do que Vincent e Jeremy", elogia o líder do grupo.
Nascido em Detroit, Hayes mudou-se para Nova York em 1956, onde se estabeleceu como um dos estilistas da bateria no jazz moderno. Ao lado de gigantes do "hard bop", como Yusef Lateef, Horace Silver e Cannonball, desenvolveu um estilo pessoal, que combina vigor e sutileza.
Comparando a cena jazzística atual com a de décadas anteriores, Hayes diz que preferia "os velhos tempos, o jazz dos anos 60 para trás". "Não há mais uma forte direção musical a seguir, como havia na época do bebop. Hoje você tem diferentes tendências, como esse "jazz de con-fusão". Agora as pessoas chamam qualquer coisa de jazz", critica o baterista.
"Os músicos jovens já não têm mais a oportunidade de manter um grupo por um período mais longo de tempo, que permita a eles crescer musicalmente", comenta o jazzista. "As gravadoras preferem que eles se virem sozinhos e gravem seus discos como líderes o mais rápido possível. Os músicos estão mais preocupados em quanto dinheiro vão ganhar, ou mesmo com sua sobrevivência, do que em se dedicarem a uma forma de arte."
Essa dedicação à música, segundo Hayes, continua ocupando boa parte de seu cotidiano. "O jazz é uma forma de arte que nunca o deixa satisfeito completamente. Você pode até sentir muito prazer em algumas noites, mas esse é um trabalho contínuo, que não acaba nunca. E eu continuo gostando muito disso."

Carlos Calado é autor de "O Jazz como Espetáculo", entre outros livros

5º CHIVAS JAZZ FESTIVAL. Onde: DirecTV Music Hall (av. dos Jamaris, 213, SP, tel. 0/xx/11/6846-6000 ou www.ticketmaster.com.br); Marina da Glória (av. Infante D. Henrique, s/nº, RJ, tel. 0300-789-3350 ou www.ticketronics.com.br). Quando: de hoje a sáb., a partir das 21h (no Rio, a partir das 22h). Quanto: de R$ 35 a R$ 65.


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