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CRÍTICA
Joel Silveira recorre à literatura
DA REDAÇÃO
"Seu Silveira, me faça um favor de ordem pessoal. Vá
para a guerra, mas não morra. Repórter não é para morrer, é para
mandar notícias." Foi assim que
Assis Chateaubriand (1892-1968)
se despediu de seu jovem jornalista Joel Silveira, então com 26 anos,
quando este estava prestes a embarcar, no inverno de 1944-45, para a Itália para acompanhar a Força Expedicionária Brasileira.
Ele começava uma carreira de
coberturas que o transformariam
num dos mais importantes repórteres de sua geração, ganhando
prêmios Esso e Jabuti e escrevendo alguns clássicos do chamado
"jornalismo literário".
Lidos 60 anos depois, os textos
de "O Inverno da Guerra" impressionam pelo equilíbrio ao
mesclar uma visão pessoal do
conflito a uma preocupação com
a descrição minuciosa do que via.
Se o termo "jornalismo literário" parece datado, é difícil mesmo não aplicá-lo ao caso de Silveira. As imagens com que constrói
sua narrativa são de um entusiasmo adolescente pela notícia, mas
também cheias de metáforas contundentes e poéticas.
Por exemplo, ao descrever sua
chegada a Nápoles: "Pois aqui estou eu sozinho na enorme cidade
subvertida, ferida de morte, invadida e estuprada de dias cinzentos
e empoeirados que cheiram a gasolina e a pus, a grande cidade talada pela guerra".
O ponto alto do livro, entretanto, é a histórica tomada do Monte
Castelo. Atocaiado na casa de um
camponês italiano, Silveira se
mostra obcecado em anotar todos
os passos das Forças brasileiras,
descrevendo o hora-a-hora da
operação. Não deixa, porém, de
reparar nas coisas que o dono da
casa largou para trás e se emociona com o estremecer de xícaras e
copos e com a expressão dos rostos em uma foto antiga de um casamento no canto do aposento.
Obedecendo às ordens do patrão, Silveira não morreu na guerra. Viveu e acrescentou um nostálgico prefácio a essas memórias:
"Não Foi um Passeio", capítulo
que abre o livro e o torna ainda
mais fundamental em qualquer
curso de jornalismo.
(SC)
O Inverno da Guerra
Autor: Joel Silveira
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 24,90 (167 págs.)
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