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CRÍTICA/ "MISSÃO IMPOSSÍVEL 3"
Novo "Missão" radicaliza a fantasia
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Se filmes incentivassem comportamentos na relação direta
e automática que muitos imaginam existir, haveria um "boom"
de jovens interessados em matemática a partir do uso espetacular
que Ethan Hunt (Tom Cruise) faz
de equações complexas em "Missão Impossível 3", rabiscando freneticamente, no vidro de uma janela, cálculos que permitirão a ele
executar entre arranha-céus de
Xangai uma coreografia de fazer
inveja ao Cirque du Soleil ou à Intrépida Trupe.
O domínio de geometria que
Hunt demonstra ali se encaixa no
perfil do superagente secreto norte-americano que, já desenhado
nos dois primeiros filmes dessa
franquia bem-sucedida, chega
aqui a seu "state-of-the-art". Ele e
sua equipe reúnem habilidades de
diplomatas, hackers, acadêmicos,
trapezistas e trambiqueiros. Para
gente assim, o céu é o limite. Ao
trabalhar com a idéia de que tudo
lhes é possível, o terceiro episódio
flerta de modo bem-humorado
com a radicalização da fantasia no
cinema de ação.
No terreno dos valores, há uma
importante novidade: agora,
Hunt quer ser um homem de família, decidido a se afastar das
operações de campo para se dedicar ao casamento com uma jovem
médica (Michelle Monaghan). A
máquina de cumprir missões arriscadas adquire caráter humano,
mas o sorriso de Cruise se transforma, ao longo do filme, em expressão de pavor, justamente porque os sonhos de vida pacata e
burguesa correm o risco de se esfarelar.
Paranóia política e teoria da
conspiração embaralham as cartas da trama, que elege um traficante internacional como o supervilão e razões secretas de Estado como pivôs de movimentações suspeitas. Philip Seymour
Hoffman nem mesmo precisa se
esforçar muito para dar conta do
recado, optando por construir a
maldade de forma minimalista:
uma frase ameaçadora dita com
modos suaves por um monstro
com rosto de bebê crescido tende
a parecer ainda mais terrível.
Pôr o ator de "Capote" com a
voz de Cruise é uma das diversas
ironias que J. J. Abrams (criador
do seriado "Lost", em sua estréia
como diretor de cinema) insere
na ação. Na genealogia de "Missão: Impossível", seu episódio
tem maior parentesco com o primeiro, dirigido por Brian de Palma, do que com o segundo, realizado por John Woo, sobretudo
porque trabalha com referências
mais diretas ao seriado homônimo de TV dos anos 60.
É bem verdade que Abrams
trouxe da televisão uma idéia de
como capturar a atenção do público muito diferente da que
orientou De Palma. Nem bem começa o filme, por exemplo, e a
tensão já se encontra no que parece ser o pico (coisa ainda pior virá). A partir daí, com o espectador
alertado (e, supõe-se, fisgado),
volta-se no tempo para explicar o
que soa inexplicável, ou como a
calmaria romântica em que Hunt
procura se acomodar será substituída brevemente pelo inferno.
A noção de ritmo, para o bem e
para o mal, é a de quem teme que
a platéia mude de canal. Como
parte da estratégia, Abrams também faz uso intenso do parque de
diversões que uma superprodução de US$ 150 milhões proporciona. "Missão Impossível 3" adota, com sua overdose de estripulias e reviravoltas, postura pragmática de mercado, julgando que
o consumidor espera mesmo tudo isso e que a sua satisfação, seja
qual for o expediente, vem em
primeiro lugar.
Missão Impossível 3
Mission: Impossible III
Direção: J.J. Abrams
Produção: EUA, 2006
Com: Tom Cruise, Philip Seymour
Hoffman, Michelle Monaghan
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Bristol, Central Plaza,
Interlagos e circuito
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