São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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HQs de heróis são ligadas à questão política, diz editor

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para Fernando Lopes, editor-sênior das revistas Marvel no Brasil, não é surpresa a influência da política dos EUA nas HQs do Capitão América.  

FOLHA - O Capitão América pode ser visto como o símbolo dos EUA?
FERNANDO LOPES
- Depende muito da época. Ele chegou a ser representado como um renegado do próprio país. Em histórias recentes, como a "Guerra Civil", ele lutou pelo que acreditava ser ideologicamente certo, indo, inclusive, contra o governo dos EUA. Ele representa os ideais do que os Estados Unidos querem ser, não necessariamente o país que eles são.

FOLHA - "Guerra Civil" envolve a criação da Lei de Registro dos Super-Humanos e uma prisão que fica em outra dimensão. É uma alegoria da Marvel ao pós-11 de Setembro?
LOPES
- Exatamente. É fácil ver os paralelos: uma grande tragédia, mortes de inocentes, uma comoção nacional que provoca uma reação política polêmica. Surgem duas facções, uma contra e outra a favor do governo.

FOLHA - O novo Capitão América portará, além do escudo, uma pistola e uma faca. Essa mudança reflete os EUA no século 21?
LOPES
- Essa não é a primeira revisão do Capitão América que nós temos. Em "Os Supremos" (série da Marvel que reinterpreta seus principais personagens), ele não é um super-herói, mas um supersoldado: ataca com metralhadora, chuta um inimigo derrotado no chão.
A versão original do Capitão América era utópica: um homem que vai à guerra com um escudo e vence sem matar. É tudo o que os Estados Unidos queriam: ganhar uma guerra sem derramar sangue.
A questão do personagem tem variado conforme o momento político. Acho que essa visão mais agressiva pode estar relacionada, sim, com o momento atual dos EUA.

FOLHA - As HQs de super-heróis são apenas escapismo e fantasia ou há espaço para críticas e reflexões?
LOPES
- Há uma série de conceitos preconcebidos que não são necessariamente verdade. O escapismo é um caso. Na época do macarthismo, os quadrinhos tiveram que ficar apolíticos por causa da política. As HQs de super-heróis são muito ligadas à questão política, principalmente dos EUA. A "Guerra Civil" é um exemplo.


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