São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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Wolfe vê imigrantes de Miami

"Back to Blood", próximo livro do escritor, é resultado de visitas que incluem clube de strippers russas

Em entrevista na Feira do Livro de Buenos Aires, um dos criadores do novo jornalismo diz que gostaria de "votar em Bush de novo"

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Sentado numa espécie de trono branco que combina com um de seus 36 ternos da mesma cor, o escritor norte-americano Tom Wolfe parece estar em casa no glamouroso hotel Faena, em Buenos Aires, onde se hospeda em uma das suítes mais luxuosas. Tão em casa como se sente em um clube de strippers russas em Miami esse senhor de 78 anos.
"A reportagem é mesmo uma atividade apaixonante. De que outra maneira eu conheceria esse desfile de strippers russas que usam codinomes como Natascha?", conta um dos criadores do novo jornalismo, após agradecer a distinção da cadeira-trono, em entrevista coletiva na capital argentina, onde é a atração principal da Feira do Livro de Buenos Aires.
A aventura vivida por Wolfe faz parte do material de pesquisa que está reunindo para seu novo livro de ficção, "Back to Blood" (de volta ao sangue), sobre o fenômeno da imigração em Miami, que deve ser lançado em 2009. O sangue do título, explica, se refere à linhagem.
"Miami é a única cidade do mundo composta, na maioria, por imigrantes recentes, dos últimos 50 anos. Pessoas com idiomas e culturas diferentes, como os cubanos, que hoje governam a cidade", afirmou o autor dos best-sellers "A Fogueira das Vaidades", "Os Eleitos" e "Radical Chique".
Apesar de escrever uma ficção, Wolfe não dispensa o trabalho de repórter e foi seis vezes à cidade para descobrir strippers russas e afins.
"Queria poder votar novamente em Bush", afirma o autor diante da pergunta da Folha sobre quem seria o seu escolhido nas próximas eleições americanas. Apesar disso, diz que "foi um erro" declarar seu voto no atual presidente George W. Bush.
"Quando entrava nos restaurantes, outros jornalistas me olhavam como se eu tivesse levantado a mão e dito "sou um abusador de menores"."
Entre os atuais candidatos, o escritor não se alinha com nenhum, e diz que a política americana é muito chata.
"Quando Richard Nixon renunciou [em 1974], nenhum bêbado republicano foi às ruas quebrar um vidro. Ficaram assistindo pela TV", relata Wolfe. "A única vez em que me diverti cobrindo política foi em Cuba, em 1960, quando as pessoas andavam pelas ruas com as veias do pescoço inchadas."
Defensor do romance de não-ficção, Wolfe afirma que só há um tipo de literatura viva: "a que é como a minha". Os romances, diz o autor, foram colocados no alto de uma montanha. "É mais fácil elogiá-los do que chegar a eles."
Uma das coisas que mais causa graça hoje em Wolfe são os blogs, que se baseiam em rumores, fazem graves acusações a funcionários, "de escravidão branca ou perversão", e cometem erros enormes. "Depois a pessoa apaga aquilo, troca de blog e ninguém a processa."
O autor se preocupa com o fato de que os jovens de hoje preferem se informar por blogs do que pela imprensa. "O problema é saber quem põe aquela informação ali."


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