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Fã conta bastidores dos Rolling Stones
Autor do fanzine "Beggars Banquet", produzido entre 1978 e 1996, reúne em livro histórias de amor e ódio pela banda
Bill German, hoje com 46 anos, largou a faculdade e saiu da casa dos pais para se aproximar dos integrantes e seguir o grupo em Nova York
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Entre sexo, drogas e
rock'n'roll, Bill German ficou
só com o último. E não por falta
de chance. Quando garoto, desistiu de perder a virgindade
para ir atrás de uma gravação
rara dos Rolling Stones. Mais
velho, deixou de tomar diversas
drogas ao lado dos membros da
banda. Tudo para estar sempre
disponível e sóbrio para narrar
as aventuras em seu fanzine,
"Beggars Banquet".
Histórias de amor pelos Stones, intercaladas por outras de
ódio entre os integrantes do
grupo, estão num livro recém-lançado nos EUA, assinado por
German, 46, chamado "Under
their Thumb - How a Nice Boy
from Brooklyn Got Mixed Up
with The Rolling Stones (and
Lived to Tell About It)".
German era um rapaz de 16
anos do Brooklyn, NY, que conseguiu se enturmar com os Stones e sobreviver às baladas para
contar tudo depois, embora
com alguns traumas e pensamentos suicidas no final. O fanzine durou de 1978 a 1996. Era
lido inicialmente por ninguém
e, mais tarde, virou boletim oficial da banda, por um ano.
"Acho que sexo é uma parte
normal da vida que sempre estará lá, mas não os Stones. Sexo
pode esperar, os Stones não esperam ninguém", disse à Folha
o autor. "E, se você quiser qualquer coisa deles, seja ingressos,
discos raros ou a chance de conhecê-los, então é melhor fazer
disso sua prioridade."
E foi isso que German fez.
Largou a faculdade de jornalismo e a casa dos pais para morar
num apartamento minúsculo
de Manhattan, onde dividia a
cama com um colega. O local
servia de "escritório" do "Beggars", onde ele lambia 3.000
selos e 3.000 cartas a cada uma
das 102 edições do fanzine. "De
acordo com meus pais, estava
fugindo de casa para me juntar
ao circo", escreveu no livro.
German deu a sorte de pegar
o "período nova-iorquino" de
três Stones -Mick Jagger,
Keith Richards e Ron Wood
moravam na cidade e circulavam pelos bares. O garoto colou neles e aos poucos foi se
aproximando, colecionado fontes que, entre outras coisas,
descolavam os discos antes dos
lançamentos. Fazia também
um diário de baladas dos músicos, com a ajuda dos paparazzi.
"O Ronnie [Wood] costumava dizer: "O "Beggars Banquet" é
por onde a gente fica sabendo o
que cada um dos Stones está fazendo'", disse German, que, aos
23, ficou amigo do guitarrista e
passou a frequentar sua casa.
Os dois costumavam varar noites ouvindo música, passando
trotes e, uma vez, German tocou pandeiro com Jagger e
Wood no estúdio da casa.
Máquina de dinheiro
Além das narrativas de fã, o
livro dá conta de um momento
delicado e pouco narrado na vida dos Stones, como a transformação da banda em uma máquina de fazer dinheiro, o fim
temporário do grupo nos anos
80 e o agravamento da relação
Jagger-Richards -o guitarrista
não suportava a maneira como
Jagger colocava sua carreira solo acima dos Stones.
Embora German não tenha
se aproximado tanto de Jagger
como de Wood e Richards, que
chegou até a conhecer seus
pais, o vocalista deu um dos
maiores presentes aos leitores
do fanzine, repassando 40 ingressos para seu show solo em
Nova York, em 1993.
A histeria e o assédio dos fãs
para conseguir as entradas levaram German à paranoia. Ele
percebeu, afinal, que o fanzine
consumia sua vida, sem tempo
para namoradas, médicos ou
para tirar a carteira de motorista. Vieram então a depressão e a
ideia de suicídio. Três anos depois, o fanzine acabou.
"Escrever o livro foi como fazer terapia. Algumas partes foram bem difíceis de digerir.
Mas eu sabia que tinha que tirar isso do meu sistema", disse.
German perdeu o contato
com os músicos, mas disse que
a sobrinha de Richards gostou
muito. "Acho que isso foi a
aprovação da família", disse.
Cerca de 50 edições do fanzine podem ser compradas por
US$ 59,90 (R$ 130) em www.beggarsbanquetonline.com.
O livro está à venda no site da
Amazon, por US$ 16,50 (cerca
de R$ 35, mais taxas).
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