São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2011

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Fetichista pop, Kenneth Anger mostra seu cinema


Morte persegue o cineasta na vida e nos filmes e, ao lado do sexo, domina ciclo de curtas no CCBB de SP

Artista americano de 84 anos explora até hoje temas tidos como subversivos, usando imagens fugidias

Divulgação
Cena da produção "Lucifer Rising" (1972), do diretor norte-americano Kenneth Anger

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

No dia em que os jornais amanheceram falando do corpo mumificado de Yvette Vickers, atriz de filmes B dos anos 1950 que apodreceu em casa, na Califórnia, Kenneth Anger veio a São Paulo para um festival de seus filmes.
A morte parece acompanhar esse cineasta. Ele não sabia de Vickers, que encarnou a gigante de 15 metros que apavorava o trânsito, mas conta que Elliott Smith, cantor sobre quem fez um documentário, se matou logo depois de concluído o filme.
Donald Cammell, que fez o deus Osíris num filme de Anger sobre o demônio, também se suicidou pouco depois com um tiro na cabeça. Um lenço de seda à guisa de curativo improvisado por Anger evitou que a amiga Marianne Faithful morresse num surto suicida, ao cortar os pulsos durante um jantar na casa de Mick Jagger.
Não foi à toa que o cineasta foi convidado para escrever o prefácio de um livro sobre suicídios de celebridades.
"Isso não acontece o tempo todo", diz Anger, 84, à Folha. "Mas me consideram um especialista nisso." Esse submundo, lado negro da Hollywood onde mora, serve de motor para a obra do artista. Seus curtas, agora reunidos num festival no Centro Cultural Banco do Brasil, refletem impressões fugazes de contornos escorregadios.
E isso ele aprendeu longe de seu maior objeto de estudo. Anger trocou uma Hollywood paranoica com o comunismo nos anos 1950 para trabalhar na Cinemateca Francesa, em Paris.
Começou fazendo curtas em preto e branco sobre fantasias sexuais obscuras, com efeitos de luz barrocos e muito sangue cenográfico, vendo na morte pulsão criativa. Já nos anos 1970, mergulhou no universo de motoqueiros e mitos do rock em filmes de cor estridente e forte carga de subversão sexual.
São temas que ele não abandona mesmo agora. Em dois filmes mais recentes, restaura imagens de arquivo da juventude nazista e de velhos dirigíveis, dando novas cores às imagens esmaecidas e operando um resgate visual da erosão dos mitos.
Seu próximo projeto é voltar ao Egito, onde esteve cinco vezes, para fazer um filme sobre as cinzas da revolução. Mas vai desviar o foco dos humanos para os camelos, que morrem de fome em épocas sem turistas. "Quero examinar esse fenômeno."

KENNETH ANGER

QUANDO programação completa em www.bb.com.br; até 15/5 ONDE CCBB (r. Álvares Penteado, 112; tel. 0/xx/11/3113-3651)
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