São Paulo, terça, 5 de maio de 1998

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CRÍTICA
Desenho é o melhor desde 'Os Simpsons'

da Redação

Sob a terra arrasada da cultura pop americana, oriunda dos excrementos do que foi transformada a contracultura pelo politicamente correto jeito de tratar a indústria pop, surge a mais bem-acabada crítica comportamental da América em forma de desenho.
Primo-irmão de "Beavis e Butt-Head", o bem-vindo "South Park" é a melhor coisa que apareceu na animação americana desde "Os Simpsons".
Se séries como "Seinfeld" batem recordes de audiência na televisão mostrando que as pessoas chegam à idade adulta mesquinhas, egoístas, maldosas, mas tudo com um fundo de "ingenuidade", desenhos espertos como "South Park" aparecem para mostrar de onde vem essa formação de caráter. Não nasce na adolescência bonita e problemática de "Barrados no Baile", por exemplo. Vem bem mais cedo, direto do umbigo da família americana.
Das divagações filosóficas evocando Baudrillard até o riso mais sacana de um exemplar da idiotia juvenil, é engraçado ver como "South Park" provoca "análises" ao se estabelecer como o maior cometa a se chocar com a atmosfera da cultura pop americana por meio de vômitos, palavrões e peidos.
Quando a mais nova sensação da TV tem o primeiro episódio chamado "Cartman Ganhou uma Sonda Anal", e por trás do mesmo episódio é possível "fazer uma leitura" de quão nociva para crianças pode ser uma sociedade gerida por paranóicos e aproveitadores, o recado está bem dado.
Tripudiar da própria decadência como os desenhos americanos fazem, seja na apelação desbocada de "South Park" ou na ironia sutil de "Os Simpsons", presta um serviço muito maior à população do que, só para tirar exemplos do nosso quintal, programas como o besteirol "Casseta & Planeta" e a idiotia de "A Praça É Nossa", sucessos de público da TV brasileira. (LÚCIO RIBEIRO)



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