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SEMANA DO CINEMA FRANCÊS
Diretor disse à Folha que improvisações tiveram papel importante na filmagem de seu longa
Poirier faz "Western" regido pelo acaso
CECÍLIA SAYAD
enviada especial a Paris
Vencedor do Prêmio do Júri no
Festival de Cannes de 97, "Western", de Manuel Poirier, narra as
aventuras do catalão Paco e do
russo Nino pelo oeste francês.
Quarto longa de ficção do cineasta, o filme será exibido hoje,
na Semana do Cinema Francês.
Poirier recebeu a Folha em Paris
para falar sobre "Western", que
tem estréia em circuito comercial
prevista para esta semana.
Folha - Como seu filme, que se
chama "Western", dialoga com o
gênero norte-americano?
Manuel Poirier - Para mim, não
há uma relação consciente e direta
entre meu filme e o western. Penso
que a noção de western ultrapassou aquela de um gênero americano. Se há um diálogo, talvez ele resida no que define esse gênero: nele, há sempre alguém que faz um
percurso geográfico que provoca
uma transformação psicológica.
Folha - O passado dos personagens principais é nebuloso, revelado aos poucos e de maneira duvidosa -não sabemos quando eles
estão dizendo a verdade. Como foi
trabalhar com os atores nessas
condições?
Poirier - Isso tem uma relação
com o tempo. O presente pode exprimir mais coisas sobre um personagem do que a existência de
um passado, que pode freá-lo e influenciar seu comportamento. Por
isso deixamos o passado de lado.
Folha - É uma maneira de valorizar o tempo presente, como o fazem os personagens no filme?
Poirier - Sim, e também de
mostrar um indivíduo pelo que ele
é, pelo que ele exprime, e não pelo
seu histórico.
Folha - O acaso tem um papel
fundamental nos acontecimentos
de "Western". Ele teve papel importante também no processo de
trabalho?
Poirier - Teve. Há quem diga
que o acaso não existe. Mas eu procuro dar a ele o máximo de espaço
para que exista. Nas filmagens havia uma base, não houve improvisação no sentido de partir de algo
que não está planejado. A partir de
uma base precisa, faço tudo o que
posso para atiçar os atores e obter
coisas imprevistas. Pode acontecer
de a situação que é o ponto de partida se manter, mas os diálogos serem completamente transformados. Na sequência em que Paco e
Nino comem na casa de duas amigas, por exemplo, os diálogos não
estavam escritos.
Folha - O ator Sergi Lopez é realmente catalão e Sacha Bourdo é
russo. Foi um fator determinante
na escolha dos atores?
Poirier - Na história, é fundamental que os personagens sejam
estrangeiros, por causa do encontro de várias identidades e culturas. Portanto, se os atores fossem
franceses, não seria o mesmo filme. A língua e o fato de estarem
deslocados geograficamente contavam muito.
Folha - Por que escolheu a Bretanha para cenário de seu filme?
Poirier - Por várias razões. Trata-se de uma região completamente isolada da França, que está fora
da rota e ficou selvagem. Por ter
sido menos invadida pela modernidade, guarda traços autênticos e
tem uma identidade muito forte.
Folha - Um diretor deve se identificar com um personagem e adotar o seu ponto de vista para contar uma história?
Poirier - O que me interessa é
estar próximo dos personagens,
exprimir a sua visão. Quando escrevo, coloco um pouco de mim
em cada um deles.
Filme: Western
Produção: França, 1997
Direção: Manuel Poirier
Com: Sacha Bourdo, Sergi Lopez
Quando: hoje, às 19h, amanhã, às 21h30, e
quinta, às 19h, no Estação Vitrine (r.
Augusta, 2.530, tel. 011/853-7684)
A jornalista
Cecília Sayad viajou a Paris a convite da Unifrance.
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