São Paulo, terça, 5 de maio de 1998

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SEMANA DO CINEMA FRANCÊS
Diretor disse à Folha que improvisações tiveram papel importante na filmagem de seu longa
Poirier faz "Western" regido pelo acaso

CECÍLIA SAYAD
enviada especial a Paris

Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 97, "Western", de Manuel Poirier, narra as aventuras do catalão Paco e do russo Nino pelo oeste francês.
Quarto longa de ficção do cineasta, o filme será exibido hoje, na Semana do Cinema Francês.
Poirier recebeu a Folha em Paris para falar sobre "Western", que tem estréia em circuito comercial prevista para esta semana.

Folha - Como seu filme, que se chama "Western", dialoga com o gênero norte-americano?
Manuel Poirier -
Para mim, não há uma relação consciente e direta entre meu filme e o western. Penso que a noção de western ultrapassou aquela de um gênero americano. Se há um diálogo, talvez ele resida no que define esse gênero: nele, há sempre alguém que faz um percurso geográfico que provoca uma transformação psicológica.
Folha - O passado dos personagens principais é nebuloso, revelado aos poucos e de maneira duvidosa -não sabemos quando eles estão dizendo a verdade. Como foi trabalhar com os atores nessas condições?
Poirier -
Isso tem uma relação com o tempo. O presente pode exprimir mais coisas sobre um personagem do que a existência de um passado, que pode freá-lo e influenciar seu comportamento. Por isso deixamos o passado de lado.
Folha - É uma maneira de valorizar o tempo presente, como o fazem os personagens no filme?
Poirier -
Sim, e também de mostrar um indivíduo pelo que ele é, pelo que ele exprime, e não pelo seu histórico.
Folha - O acaso tem um papel fundamental nos acontecimentos de "Western". Ele teve papel importante também no processo de trabalho?
Poirier -
Teve. Há quem diga que o acaso não existe. Mas eu procuro dar a ele o máximo de espaço para que exista. Nas filmagens havia uma base, não houve improvisação no sentido de partir de algo que não está planejado. A partir de uma base precisa, faço tudo o que posso para atiçar os atores e obter coisas imprevistas. Pode acontecer de a situação que é o ponto de partida se manter, mas os diálogos serem completamente transformados. Na sequência em que Paco e Nino comem na casa de duas amigas, por exemplo, os diálogos não estavam escritos.
Folha - O ator Sergi Lopez é realmente catalão e Sacha Bourdo é russo. Foi um fator determinante na escolha dos atores?
Poirier -
Na história, é fundamental que os personagens sejam estrangeiros, por causa do encontro de várias identidades e culturas. Portanto, se os atores fossem franceses, não seria o mesmo filme. A língua e o fato de estarem deslocados geograficamente contavam muito.
Folha - Por que escolheu a Bretanha para cenário de seu filme?
Poirier -
Por várias razões. Trata-se de uma região completamente isolada da França, que está fora da rota e ficou selvagem. Por ter sido menos invadida pela modernidade, guarda traços autênticos e tem uma identidade muito forte.
Folha - Um diretor deve se identificar com um personagem e adotar o seu ponto de vista para contar uma história?
Poirier -
O que me interessa é estar próximo dos personagens, exprimir a sua visão. Quando escrevo, coloco um pouco de mim em cada um deles.


Filme: Western Produção: França, 1997 Direção: Manuel Poirier Com: Sacha Bourdo, Sergi Lopez Quando: hoje, às 19h, amanhã, às 21h30, e quinta, às 19h, no Estação Vitrine (r. Augusta, 2.530, tel. 011/853-7684)


A jornalista Cecília Sayad viajou a Paris a convite da Unifrance.



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