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ARNALDO JABOR
Golpistas querem provar que democracia é impossível
Diante do golpismo descarado que assola o país, eu te
digo: se o projeto de reformas administrativas e técnicas que este
governo tentou implantar não se
concluir, se a sabotagem chamada "oposição" conseguir reverter
a busca de um mínimo de racionalidade econômica, dentro de
algum tempo, estaremos à beira
de uma ruptura institucional,
com a destruição dos fundamentos da economia e a volta da velha zona geral brasileira.
Em psicanálise, sabe-se que a
dificuldade de curar um neurótico é que ele "deseja" o mal que o
aflige. Estamos assistindo a um
caso de brutal "resistência" ao
projeto do governo FHC, que quis
fazer uma revolução possível nas
estruturas absurdas do Estado
brasileiro. O ódio vai mais além
de FH. Odeiam a agenda que ele
pretendeu e que, talvez, morra na
praia. O precário imaginário político brasileiro, a soma de seus
cacoetes, ilusões, preconceitos, esse imaginário feito de restos de
getulismo, de um udenismo-leninista em coalizão com o fisiologismo das oligarquias, esse ensopadinho ideológico está deflagrado
num vale-tudo contra a mudança
de um país patrimonialista em
um país mais moderno. É contra
isso, contra seu programa, e não
apenas contra o presidente, que se
insurge o golpismo atual, com a
opinião pública manipulada pelos líderes e a mídia espetaculosa.
O símbolo dessa reação é ACM,
que chega a ter a importância sociológica de ser a síntese viva da
resistência patrimonialista. ACM
comanda há meses (com sucesso)
a transformação do país numa
"chacrinha". Há meses, estamos
paralisados, assistindo às diabruras desse delinquente tardio. E ele
expressa com clareza o que desejam os seus seguidores: permanência do coronelismo, provocação à democracia, cooptação da
ignorância do povo contra qualquer racionalidade reformista. É
incrível, mas ele disse, há pouco,
literalmente: "Esperem para ver o
que vou fazer com esse país...". E,
mesmo assim, é visível nas entrelinhas que vários jornalistas têm
uma fascinação secreta pelo seu
autoritarismo machista.
O que eu acho assustador é que
ninguém se toca para a delicadeza do momento histórico que vivemos. Ninguém pensa no fio de
navalha econômica em que andamos, entre crises nossas e dos
outros, como Argentina, Alca,
Turquia... Falam de politica como se cuidássemos da substituição de um gabinete por outro, como se estivéssemos na Suécia. O
grave é que os fundamentos de
nossa economia é que estão em
jogo. A desinformação popular,
alimentada pelos golpistas, acha
que o problema do governo é a
"corrupção", existente há 400
anos e que só a democracia fez
aparecer. Dizem que nosso problema é "moral", tudo "culpa do
FHC", esquecendo-se do Congresso, do Judiciário e das burocracias. Fazem o alarmismo de bobagens, só apontam detalhes "micro" para impedir qualquer mudança "macro".
O vexame simplista da menina
presidente da Ubes, mostrando a
bunda (provavelmente posará
para "Playboy"), é emblemática:
"Mostrei a bunda para mandar o
governo para o espaço". A oposição está conseguindo isto: caçar o
FHC, concentrar tudo nele, para
esconder que o alvo é seu projeto.
Entrementes, o cartola paulista
e ex-secretário de Justiça do Quércia (!), este Approbato da OAB,
usa o protocolo para insultar um
homem decente, para aparecer e
também porque os advogados estão irritados com as MPs, pois
elas prejudicam os gordos honorários das desapropriações contra
o Tesouro. Enquanto isso, o "Jeca
Tatu" fascistóide Itamar avisa
que vai pedir moratória de novo,
para inviabilizar a economia; enquanto isso, o PT, numa "bandeira" explícita, mostra seu desejo e
programa no horrendo filmete
"ratos roendo o Brasil"; enquanto
isso, os acadêmicos ressentidos
vão saindo da toca para babujar
truísmos sobre "neoliberalismo e
correlação de forças", e um professor como Francisco de Oliveira,
de pijama em casa, acusa José
Serra de ser ligado a "esquemas
internacionais", ele, que acaba de
vencer batalha na ONU sobre o
poder americano dos remédios,
reconhecido como vitória pelos
jornais do mundo todo. E, extraordinário: sabota-se durante
anos o governo, infernizando-o
com provocações sem fim, para
fazer soçobrar qualquer tentativa
de racionalidade e, quando o governo começa a soçobrar, acusam-no de "soçobrar"...
Eu achava que o período Collor
nos teria ilustrado para a necessidade de reformar estruturas que
estimulam o caos, a loucura de
um Estado falido e ineficiente.
Não. Compreendem-no apenas
como uma vitoria da "moralidade".
As forças da "frente única oligarquias-ideologias" estão lutando para reconstruir o mesmo Brasil que permitiu o surgimento de
Collor, que permitiu a anomia
flácida com inflação de 80% ao
mês do governo Sarney e, antes, o
golpe de 64. Querem a volta do
Brasil iludido, sem projeto, porque atraso e zona dão lucros ideológicos e fisiológicos. E melhor para roubar o Estado e propagar
utopias ridículas. Há no golpismo
instalado mais do que o ódio a
FHC. Há o desejo de provar que a
democracia é impossível aqui.
Repito o que disse no início: se
não houver adequação do Brasil
à realidade econômica mundial,
se a racionalidade que este governo tentou for substituída por um
nacionalismo jeca ou pela burrice
ideológica das oposições sem programa, em pouco tempo teremos
a quebra do país e a volta de um
autoritarismo de direita, como foi
em 64.
E, como ninguém segura a força
da economia mundial, veremos
que, fragilizados, falidos, nossa
possível adaptação crítica ao
mundo globalizado será substituída por uma dependência imposta, uma satelitização do país
ao capital dominante e aí, sim, aí
veremos (oh, babacas do meu
Brasil!) o que é o neoliberalismo
selvagem e a desconstrução de
uma nação.
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