|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O signo do caos
"Lugares Públicos", obra vanguardista de José Agrippino de Paula, é reeditada após 40 anos
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Chove lá fora e o olhar de José
Agrippino de Paula caminha perdido no meio das gotas. Enrolado
em trapos, equilibrado na ponta
de uma bancada sem braços, cabeleira arregimentada em um rabo, ele parece estar prestes a contar um segredo sobre algum assunto que nem se sabe qual é.
Chove lá fora e o olhar de José
Agrippino de Paula segue sereno,
impermeável ao barulho de caminhões e ônibus que trouxeram o
caos ao outrora pacato município
paulista de Embu onde se refugiou desde o início da década de
80. Foi sempre assim na vida desse escritor e cineasta paulistano,
hoje com 67 anos. Ele tranqüilo, o
caos batendo à sua porta.
Nesta tarde, com garoa ou sol
senegalesco, com motos rugindo
ou passarinho cantando, Agrippino vai girar a maçaneta.
Ele vai até uma livraria no Embu
para uma sessão de "de volta para
o futuro". A editora Papagaio lança nesta tarde, 40 anos depois, a
segunda edição de seu vanguardista romance "Lugar Público".
Estréia literária de Agrippino, o
romance deixou os que se aventuraram à época por suas 267 páginas um bocado surpresos. Carlos
Heitor Cony, por exemplo, que
assinou a orelha da primeira edição, salientou o "mundo caótico"
de "Lugar Público", seu desprezo
"pelos lugares-comuns da narrativa", seu "poderoso fabular".
Em conversa com a Folha nesta
semana, no Embu, o recluso
Agrippino, que não publica desde
1967, quando lançou sua epopéia
"PanAmérica", aceitou fazer um
passeio por seus signos do caos.
Leia a seguir um pouco do que
ele, sempre de olho na chuva lá fora, nos contou.
Texto Anterior: Programação Próximo Texto: O signo do caos: "Sou um filiado da pop art", diz Agrippino Índice
|