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"DIVINA COMÉDIA DA FAMA"
Livro descreve a trajetória do candidato a famoso
PAULO SAMPAIO
DA REVISTA DA FOLHA
Dizem que jamais se deve
contar o fim do livro, mas no
caso de "Divina Comédia da Fama", é melhor prevenir as celebridades instantâneas: a coisa não
termina bem. Por sorte, quem
ampara o aspirante a famoso na
queda, com bom humor e elegância, é Xico Sá, colunista da Folha.
Jornalista multiversado, PhD
em Palácio do Planalto, pesquisador incansável do mundinho fashion e eterno doutorando em inferninhos da "boca do lixo", Xico
Sá coloca toda a sua extensa quilometragem mundana a serviço
dessa pictórica paródia da obra de
Dante Alighieri. Temperada com
grafismos "renascentistas", "aspas" de colunistas e muitas frases
de famosos de todas as épocas, a
"Divina Comédia" de Xico também começa no purgatório, passa
pelo paraíso e termina no inferno.
Desde o primeiro capítulo ("Sacrifícios e Provações de Quem
Quer Chegar Lá"), o livro tem estrutura "bilíngüe": tanto serve para orientar aquele que quer galgar
o topo como para divertir quem
assiste à alavancagem.
"Um strip-tease, embora renda
chamadas de capa, não é garantia
de futuro algum, apenas do aparecer pelo aparecer. Depois sumir, como uma promessa poética", avisa o autor.
Leves e curtos, os capítulos do
livro são como "esquetes" que
têm a duração de uma risada
-mas estão repletos de didatismo. Já no purgatório, há um "breve guia de vocações e ofícios ligados à fama", com a definição de
todos os personagens da escalada
social: do "assessor de imprensa"
à "madrinha da bateria" ("O posto é rifado entre atrizes e celebridades, saibam ou não dizer miudinho no pé.").
Na segunda parte, o paraíso, o
famoso atingiu o "jardim das delícias" e tem à disposição "um fotógrafo por segundo". Só por charme, ensina o autor, é bom se proteger com reações como: "Respeitem a minha privacidade!".
É quando aparecem as "doenças do célebre", como a síndrome
do pânico; a "blindagem do corpo" com o "bruxo da ocasião", e o
namorado arranjado para ser capa de revista, com a manchete:
"Estrela vive grande amor e planeja primeiro filho".
Apesar de Xico preservar a
identidade dos personagens, é
possível reconhecer muitos deles:
do "playboyzinho que coleciona
grandes modelos, filho do milionário encrencado no passado
com a Justiça..." até a "loura do
axé que tenta uma vaga como
apresentadora infantil".
Mas aí já é o inferno, a melhor
parte do livro, como na "Divina
Comédia" de Dante. Nos hilários
"O que Houve de Errado 1? (2, 3, 4
e 5)", o autor auxilia o decaído a
entender "por que". "Terei sido
demasiadamente vulgar?", pergunta-se o ex-famoso.
Entre uma nota de desespero e
outra de amargura, só resta mesmo rir. "Só não é doloroso para
quem assume que tudo não passa
mesmo de uma comédia", sugere
o autor, como única possibilidade
de saída digna.
DIVINA COMÉDIA DA FAMA. Autor:
Xico Sá. Editora: Objetiva. Quanto: R$
32,90.
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