São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"DIVINA COMÉDIA DA FAMA"

Livro descreve a trajetória do candidato a famoso

PAULO SAMPAIO
DA REVISTA DA FOLHA

Dizem que jamais se deve contar o fim do livro, mas no caso de "Divina Comédia da Fama", é melhor prevenir as celebridades instantâneas: a coisa não termina bem. Por sorte, quem ampara o aspirante a famoso na queda, com bom humor e elegância, é Xico Sá, colunista da Folha.
Jornalista multiversado, PhD em Palácio do Planalto, pesquisador incansável do mundinho fashion e eterno doutorando em inferninhos da "boca do lixo", Xico Sá coloca toda a sua extensa quilometragem mundana a serviço dessa pictórica paródia da obra de Dante Alighieri. Temperada com grafismos "renascentistas", "aspas" de colunistas e muitas frases de famosos de todas as épocas, a "Divina Comédia" de Xico também começa no purgatório, passa pelo paraíso e termina no inferno.
Desde o primeiro capítulo ("Sacrifícios e Provações de Quem Quer Chegar Lá"), o livro tem estrutura "bilíngüe": tanto serve para orientar aquele que quer galgar o topo como para divertir quem assiste à alavancagem.
"Um strip-tease, embora renda chamadas de capa, não é garantia de futuro algum, apenas do aparecer pelo aparecer. Depois sumir, como uma promessa poética", avisa o autor.
Leves e curtos, os capítulos do livro são como "esquetes" que têm a duração de uma risada -mas estão repletos de didatismo. Já no purgatório, há um "breve guia de vocações e ofícios ligados à fama", com a definição de todos os personagens da escalada social: do "assessor de imprensa" à "madrinha da bateria" ("O posto é rifado entre atrizes e celebridades, saibam ou não dizer miudinho no pé.").
Na segunda parte, o paraíso, o famoso atingiu o "jardim das delícias" e tem à disposição "um fotógrafo por segundo". Só por charme, ensina o autor, é bom se proteger com reações como: "Respeitem a minha privacidade!".
É quando aparecem as "doenças do célebre", como a síndrome do pânico; a "blindagem do corpo" com o "bruxo da ocasião", e o namorado arranjado para ser capa de revista, com a manchete: "Estrela vive grande amor e planeja primeiro filho".
Apesar de Xico preservar a identidade dos personagens, é possível reconhecer muitos deles: do "playboyzinho que coleciona grandes modelos, filho do milionário encrencado no passado com a Justiça..." até a "loura do axé que tenta uma vaga como apresentadora infantil".
Mas aí já é o inferno, a melhor parte do livro, como na "Divina Comédia" de Dante. Nos hilários "O que Houve de Errado 1? (2, 3, 4 e 5)", o autor auxilia o decaído a entender "por que". "Terei sido demasiadamente vulgar?", pergunta-se o ex-famoso.
Entre uma nota de desespero e outra de amargura, só resta mesmo rir. "Só não é doloroso para quem assume que tudo não passa mesmo de uma comédia", sugere o autor, como única possibilidade de saída digna.


DIVINA COMÉDIA DA FAMA. Autor: Xico Sá. Editora: Objetiva. Quanto: R$ 32,90.


Texto Anterior: Análise: Adeus de um "rei do riso"
Próximo Texto: "História do Brasil pelo Método Confuso": Obra coloca país em palco tropical de humor e ironia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.