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TV PAGA
O pecado original visto de uma ambulância
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Quanto mais passa o tempo, mais "Vivendo no Limite" (TNT, 22h) me parece interessante. É um fenômeno recorrente
no cinema de Martin Scorsese -e
acho que não é uma coisa pessoal:
num primeiro momento, os filmes se mostram a nós numa dimensão menor ou maior do que
aquela, definitiva ou quase isso,
que adquirirão com o tempo.
Talvez o que hoje me impressione mais seja justamente a modéstia daquilo que se mostra. Não
uma saga da velha Nova York
nem gerentes de cassino. Apenas
a história de homens que se deslocam em suas ambulâncias na tentativa de prestar primeiros socorros às vítimas mais heterogêneas
do mundo.
No passado, quem fazia filmes
desse tipo era Raoul Walsh. "Dentro da Noite" trata da vida dos
motoristas de caminhão. Apesar
do título, "Aquela Mulher" se
ocupa de homens que fazem a religação da rede elétrica em momentos mais do que ingratos.
Personagens como esses são o
sal da terra do cinema americano,
pois garantem o vínculo do cinema com o mundo que o circunda.
Parece fácil. Mas como isso falta
ao cinema brasileiro.
Bem, em "Vivendo no Limite",
o personagem de Nicolas Cage
tem uma particularidade interessante: ele se sente atormentado
pelos espíritos daqueles a quem
não conseguiu salvar. Pode ser
mais cristão? Não. Carregamos a
culpa daquilo que não temos culpa. Pecado original é o nome.
Ninguém estranhará que o roteiro foi escrito por Paul Schrader.
Logo em seguida, a própria
TNT entra com "Lolita", a versão
de Adrian Lyne. No filme -e fazendo a comparação com a versão de Stanley Kubrick- entramos em contato com tudo o que
não se deve fazer. Pode-se pensar
o que for da história de Nabokov,
menos que ela seja propícia a um
"erotic thriller", mas é mais ou
menos isso o que ela vira.
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