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Massive Attack reafirma resistência
"Collected" reúne 13 das melhores canções do grupo e nove faixas raras
Em entrevista, Robert Del Naja, vocalista da dupla, fala sobre o próximo álbum e comenta a conturbada carreira de sua banda
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Coletâneas são a melhor maneira de um(a) artista/banda
lembrar o público de uma época que não volta mais. Mas, para o Massive Attack, é uma prova de resistência.
A dupla acaba de lançar, inclusive no Brasil, "Collected",
disco duplo que traz, na frente,
13 das melhores canções já lançadas pelo grupo inglês, além
da nova "Live with Me". No verso, estão nove faixas raras, além
da inédita "False Flags".
Após separações, brigas internas, brigas com o governo
britânico e acusações não comprovadas de pornografia infantil, é quase um milagre que o
Massive Attack tenha sobrevivido por 15 anos.
O curioso -e talvez a principal razão de a banda ainda estar
de pé- é que seus dois integrantes, Robert Del Naja (também conhecido como 3D) e
Grant Marshall (Daddy G) trabalham juntos, mas separados.
Para realizar o próximo e
quinto álbum, "Weather Underground", que deve sair no
começo de 2007, Del Naja trabalha em seu estúdio em Bristol, com o produtor e colaborador Neil Davidge, enquanto
Marshall cria suas faixas em
outro local, do outro lado da cidade. Como em discos anteriores, os dois se encontram apenas depois, para selecionar e
dar retoques no material.
"Acho que muitas bandas
também trabalham desse jeito,
com cada músico levando suas
idéias separadamente para depois tentar dar uma unidade a
tudo", disse Del Naja à Folha.
"É muito difícil manter amizade durante muito tempo trabalhando junto. Minha relação
com Daddy G nunca foi fácil.
Além disso, o Massive Attack
nunca foi uma banda convencional, parece que cada disco
nosso representa um projeto
diferente, com os músicos e
cantores que convidamos."
Entre esses convidados, estão os indies norte-americanos
do TV on the Radio. "Fizemos
algumas faixas com eles bastante interessantes, que devem
entrar no próximo disco."
Uma pista de como será
"Weather Underground" é "Live with Me", uma das novas
canções de "Collected" (a outra, "False Flags", é uma crítica
às turbulências enfrentadas
pela comunidade européia, segundo Del Naja). Com os vocais
de Terry Callier, ela aponta para o blues e para a soul music.
"Não sei até que ponto ela serve como referência. Ainda não
sei para qual direção seguirá o
próximo disco. Quero que seja
soul, intenso e bonito. Mas estamos no meio do caminho."
Gênese do trip hop
Seja qual for a direção tomada, Del Naja não exagera quando diz que o Massive Attack não
é uma banda convencional. O
grupo é cria do Wild Bunch, coletivo artístico de Bristol que
reunia artistas plásticos, grafiteiros e músicos. Além de Del
Naja e Marshall, a banda tinha
em seu núcleo Andrew Vowles
(o Mushroom). Tricky, que depois seguiria carreira solo, também fez parte do MA.
Em 1991, lançaram "Blue Lines", disco que gerou todo um
gênero da eletrônica, o trip hop,
com suas influências de hip
hop, jazz e soul. Músicas como
"Unfinished Sympathy", "Daydreaming", "Safe from Harm"
(com seu clima atmosférico e
denso) inspiraram uma geração (Portishead, Morcheeba...).
"Quando éramos do Wild
Bunch, tínhamos algumas características. Éramos pessoas
totalmente diferentes, com famílias de culturas diferentes,
produzindo juntas. Havia muitas coisas e idéias acontecendo", ele relembra. "Na época,
nem sabíamos se iríamos terminar o disco. Acho que conseguimos encapsular nosso mundo naquele álbum. Foi algo
contra o sistema, contra o que
havia nas rádios e na TV."
Depois, vieram "Protection"
(que trazia a vocalista Tracey
Thorn, do Everything But the
Girl), "Mezzanine" (com o hit
"Teardrop") e "100th Window"
(feito todo por Del Naja) -sem
contar "No Protection", com
versões remixadas de Mad Professor, e duas trilhas sonoras.
A fase de Mezzanine (1998)
foi a mais conturbada, com o
trio brigando publicamente.
Em seguida, Vowles deixou a
banda. Os problemas não pararam. Em 2003, Del Naja foi
acusado pelo governo britânico
de acessar sites de pornografia
infantil. Nada foi provado.
As acusações apareceram na
mesma época em que Del Naja
e Damon Albarn (do Blur) compraram anúncios de página inteira em jornais e revistas ingleses para protestar contra o
envolvimento do país na Guerra do Iraque. Comentários políticos não são nada comuns no
mundo da eletrônica.
"É estranho. A eletrônica parece renegar a política e nunca
faz comentários sociais, à exceção de alguns momentos em
que está ligada a um movimento, como na época das raves."
O Massive Attack criou um
universo próprio. "Mesmo estando numa major, sendo parte
do show business, temos nosso
mundo e um espírito underground de comportamento."
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