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"Filmes não devem se ater aos limites da nacionalidade"
Investidor argentino Costantini Jr. diz buscar histórias que "possam ser compreendidas e funcionem comercialmente fora de seu país'
Filho do criador do Malba foi diretor do museu; há pouco, afastou-se para se dedicar só ao cinema e fechou parceria com criadores da Miramax
SYLVIA COLOMBO
EM BUENOS AIRES
Um sujeito de cabelo desalinhado, olhar blasé e sotaque
portenho deve estar caminhando pela orla e pelas ruas do Rio
de Janeiro neste momento.
Não se trata, porém, de apenas
mais um turista argentino encantado pela brisa e pelo charme da Cidade Maravilhosa.
Eduardo Costantini Jr., 32,
vai se reunir com produtores,
cineastas e roteiristas brasileiros na tentativa de marcar um
segundo gol de placa em sua recém-iniciada carreira. Como
principiante na área, o empresário argentino investiu 2 milhões de dólares no polêmico
"Tropa de Elite", quando este
ainda estava no papel. Teve sorte. Além de um renomado prêmio internacional (o Urso de
Ouro em Berlim) e do retorno
financeiro com sua venda para
mais de 25 países, o filme projetou seu nome e coroou a inédita
associação entre um co-produtor sul-americano e os poderosos irmãos Bob e Harvey
Weinstein (criadores da Miramax), com o nome de Latin
America Film Company.
Agora, Costantini Jr. quer repetir o feito. De preferência,
com outro filme brasileiro.
Além do próximo de José Padilha (diretor de "Tropa"), ainda
a ser anunciado, o empresário
busca roteiros que possam receber seu investimento. Para
facilitar as ações no Brasil, acaba de fechar parceria com a
brasileira Julia Otero, proprietária dos estúdios Mega e que
trabalha com distribuição digital.
"A idéia é investir o nosso dinheiro diretamente nas produções para que estas sejam financiadas em parte com esse
aporte, em parte com as leis de
incentivo do Brasil. Queremos
ser independentes para fazer
coisas com diferentes possíveis
sócios, como a Videofilmes, a
Conspiração e até a Globo, no
futuro", disse, em entrevista à
Folha no Malba (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos
Aires), inaugurado em 2001 por
seu pai, o também empresário
Eduardo Costantini.
Um dos mais importantes
colecionadores de arte da América Latina, Costantini pai ficou
conhecido no Brasil por ter
comprado, em 1995, a tela
"Abaporu", de Tarsila do Amaral, por cerca de US$ 1,5 milhão.
O filho foi diretor do museu até
recentemente, quando se afastou para abrir a Costa Films e
se dedicar só ao cinema.
Apesar de o Brasil ser o maior
foco de interesse do argentino,
produções de outros países latino-americanos estão sendo financiadas por ele. O primeiro
filme do mexicano Guillermo
Arriaga (roteirista de "Babel")
como diretor, "Burning Plain",
com Kim Basinger e Charlize
Theron no elenco, está em fase
final de edição. Há ainda o projeto de uma história rodada na
Argentina e no Uruguai com
Penélope Cruz, e um outro, do
argentino Luis Ortega, "Verano
Maldito", inspirado em conto
do japonês Yukio Mishima.
"São filmes que se passam
em um lugar, mas que têm atores e diretores de outros países.
O cinema contemporâneo não
deve se ater aos limites de uma
única nacionalidade. Me interessa escolher boas histórias
que possam ser bem compreendidas e funcionem comercialmente fora daqui."
Para o jovem milionário, ainda, o cinema latino-americano
deve se comprometer com as
causas sociais. "É preciso expor
esse imenso problema que
existe no continente que é a
distância entre ricos e pobres.
É uma realidade dura, e o cinema pode fazê-la conhecida por
muitas pessoas no mundo."
Pirataria
Entrar num negócio cujo futuro é incerto por conta da pirataria é enfrentar um sério risco. Mas Costantini crê em soluções. No próximo festival de
Toronto, em setembro, anunciará a criação de uma ferramenta para venda de filmes pela internet, que estará então
disponível no site www.theauteurs.com. "É um modelo
novo. Estamos formando o catálogo e pretendo colocar muitas películas brasileiras lá."
Na época do lançamento de
"Tropa", quando Padilha disse
que a desenfreada pirataria de
que o filme foi alvo era negativa
para a produção, Costantini
ressaltou o outro lado do problema ao dizer que ela também
contribuía para sua difusão.
"Sou contra a pirataria, é um
delito e não quero que aconteça com os próximos filmes nos
quais investirei. Mas, ao mesmo tempo, me faço a pergunta:
será que a pirataria não é positiva para aqueles que não têm
dinheiro para ir ao cinema?".
Para o argentino, o DVD logo
desaparecerá, e a tendência é
que as pessoas vejam cada vez
mais cinema pela internet. E é
otimista. Acha possível que,
ainda assim, o negócio seja lucrativo. "A distribuição digital e
os serviços de vídeo "on demand" já são fortes nos EUA e
também serão na América Latina. A renda virá da publicidade veiculada por esses sites."
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