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Costner é EUA contra o terror em 'O Mensageiro'
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Depois de dar literalmente com
os burros n'água em "Waterworld", Kevin Costner alterna a
variável. Em "O Mensageiro", as
locações são secas, desérticas, e
Costner o responsável por restaurar os Estados Unidos pós-hecatombe (ou 2013).
Para isso, ele incorpora uma espécie de herói-sem-caráter que,
mesmo tendo a possibilidade de se
tornar o redentor de seu tempo,
hesita e comumente renuncia em
nome de sua segurança pessoal e
um prato de comida.
Num mundo em que os costumes voltam alguns bons pares de
anos (mulheres costurando, por
exemplo), Costner nos é apresentado ao lado de seu burrico representando peças de Shakespeare.
Recrutado por Belém (Will Patton), um ex-vendedor de máquinas copiadoras que se tornou o
mais temido e violento chefe militar desse novo mundo, tem o "8"
da organização belicosa tatuado
em seu braço.
Mas Costner foge e um dia vai
dar com um jipe tombado. Dentro, o uniforme quase intacto de
um carteiro.
Inventa duas ou três frases, acha
uma leva de correspondências e
consegue entrar em Pineview, que
tem uma destinatária para uma
das cartas que porta.
Ele queria comida, e é por ela
que age, mas agora é obrigado a
sustentar uma mentira, já que a
população está ávida por notícias.
Seus Estados Unidos restaurados
têm um presidente, alguém chamado Starkey, a capital está instalada provisoriamente em Minneapolis e ele não precisa mais andar
por aí foragido, ganha até um cavalo da população do vilarejo.
Enquanto pensa em sua sobrevivência, alguém que o viu em Pineview cria uma milícia de carteiros
e a mantém animada com as cartas
de estímulo assinadas pelo "Mensageiro".
É claro que Costner vai acabar,
mais tarde, por chefiar esses discípulos contra Belém, com os resultados aguardados.
Se Costner abusa de clichês como o "slow motion", a trilha melosa, as câmeras fincadas em precipícios, os trocadilhos sobre fama
trocados com Tom Petty (que faz
uma ponta como prefeito de uma
vila), ao menos conseguiu extrair
de seus roteiristas um personagem
menos óbvio do que era de esperar.
Não se costuma imaginar um
carteiro como o adversário mais
renhido de um general que nas horas vagas gosta de pintar seu próprio retrato (você viu isso em algum lugar).
Mas é mesmo o desejo de cuidar
da própria vida que faz do personagem de Costner algo mais do
que mais um defensor dos fracos e
oprimidos. Ainda que, ao desfecho, abandone suas convicções estomacais e lute contra Belém, defendendo explicitamente os EUA,
ele jamais parece estar agindo por
conta própria.
Ironicamente, a redenção do
eterno bom moço Costner pode
estar começando agora, com a admissão de que ele traz também falhas em seu caráter.
Filme: O Mensageiro
Produção: EUA, 1997
Direção: Kevin Costner
Com: Kevin Costner, Will Patton, Larenz
Tate, Olivia Williams
Quando: a partir de hoje, nos cines
Marabá, Eldorado 1, Gazeta e circuito
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