São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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CINEMA
Troca cultural é problemática no Mercosul

INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Florianópolis

Aos poucos, o 3º Florianópolis Mercosul Cultural vai revelando a precariedade da união dos países do Cone Sul, pelo menos do ponto de vista da produção cultural.
Os países integrantes do bloco (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai) e o Chile têm problemas e interesses quase sempre diferentes. Assim, na ótica de Beatriz Flores, representante dos produtores de cinema uruguaios, a hipótese de promover co-produções é decisiva: num país com pouco mais de 3 milhões de habitantes, a hipótese de uma cinematografia autônoma é praticamente inviável.
As coisas são bem diferentes para o Brasil, por exemplo: com um enorme mercado consumidor, a questão-chave para seus cineastas é formular uma política que lhes permita disputar esse mercado.
A Argentina, que poderia manter uma relação de troca razoavelmente equilibrada com o Brasil, também não cai de amores pela possibilidade de co-produzir com o Brasil, já que o custo médio do filme brasileiro é bastante superior ao do argentino, o que forçaria os produtores argentinos a investir mais para ter uma porcentagem menor dos filmes.
Tudo isso ameaça transformar a sucessão de mesas do seminário que se realiza em Florianópolis numa sequência de monólogos, em que as dificuldades parecem bem mais evidentes do que os pontos de contato.
Daí fazer sentido a indagação lançada por Mauro Garcia, da TVE do Rio: "O que nós somos? Uma colcha de retalhos ou países com experiências comuns a trocar?".
Se a idéia é trocar automóveis, palmito ou vinho por preços mais acessíveis, o bloco comercial faz sentido imediatamente. A produção cultural, ao contrário, supõe a existência de uma política de bloco, além de um longo trabalho de reconhecimento (e mesmo afeição, pode-se dizer) dos vizinhos.
Se não servisse para mais nada, o 3º FMC valeria para constatar quanto essa ação de longo prazo ainda está longe de ser uma realidade (e quanto nós, do Mercosul, não sabemos "quem somos").

Cinema e TV
Daí as discussões sobre a necessidade de aproximação entre cinema e televisão, no Brasil, darem a impressão de ser mais proveitosas a curto prazo. A entrada da TV por assinatura no país -e o aumento de demanda de produtos audiovisuais- está forçando essa aproximação, apesar dos tropeços.
Um caso que ilustra bem essa tendência é o de Petrus Barretto, ex-diretor da Globosat e hoje consultor especializado em aproximar os cineastas da TV. Ele vê nos cineastas um comportamento "informalíssimo", do ponto de vista jurídico, em contraste com o formalismo das TVs.
Ainda assim, a tendência é a de cinema e TV vencerem os percalços dessa primeira aproximação, mesmo que para isso os cineastas tenham que se adequar até certo ponto às necessidades específicas de cada canal -aspecto para o qual chamou a atenção Elisabeth Ritto, diretora do canal GNT.
Seja pela ação do Programa de Integração Cinema-TV, da TV Cultura, seja por intermédio da Globosat, o certo é que essas duas tradições, que no Brasil até há pouco se repeliam mutuamente, se vêem na contingência de caminhar uma na direção da outra -se possível evitando uma colisão.


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