São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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LITERATURA RUSSA
Brasil comemora 200 anos de Púchkin

Reuters
Visitante observa obra da exposição de Oelg Khokholov dedicada ao escritor Púchkin


IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Descendente de negros, subversivo e tradutor de poesia brasileira: com uma biografia breve, porém movimentada, o fundador da literatura russa moderna, Aleksandr Sergueievitch Púchkin (1799-1837) tem, no Brasil, uma série de eventos comemorando seu bicentenário de nascimento.
Há um ano, foi instituída uma Comissão Nacional Púchkin, formada, entre outros, pela embaixada e consulados da Rússia no Brasil, Academia Brasileira de Letras, Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para preparar as celebrações em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
O escritor foi o primeiro a traduzir para sua língua um poeta tupiniquim -no caso, o inconfidente mineiro Tomás Antônio Gonzaga, que teve uma de suas liras vertidas para o russo possivelmente a partir de uma tradução francesa.
Púchkin pode não ter sido o criador da literatura russa em si, mas, certamente, é o fundador da literatura russa como a conhecemos.
Pouco conhecido no Brasil, foi ele quem moldou o idioma literário russo no qual se expressariam autores mais difundidos por aqui, como Gogol, Dostoiévski, Tolstói e Tchekhov.
As poucas edições brasileiras de Púchkin estão, em sua maioria, esgotadas (como a tradução de Olavo Bilac do poema "O Cavaleiro Pobre").
Não se acham em nossas livrarias obras fundamentais como "Ievguêni Oniéguin" -o primeiro romance da literatura russa-, "Ruslan i Liudmila" ou "Boris Godunov". Com muita sorte, é possível encontrar alguma tradução de "A Filha do Capitão", além do volume "Poesias Escolhidas", editado pela Nova Fronteira, com organização, tradução e notas de José Casado.
Dada esta pouca divulgação das obras de Púchkin, o evento mais relevante do bicentenário acaba sendo o lançamento da antologia "A Dama de Espadas", com contos e poemas traduzidos por Boris Schnaiderman e Nelson Ascher. O lançamento acontece no dia 15, na Fnac (r. Pedroso de Moraes, 858, Pinheiros), em São Paulo.
O volume inclui "O Negro de Pedro, O Grande", texto inacabado, no qual Púchkin conta a história de Abram Ganíbal (em português, Abraão Aníbal), seu bisavô pela linha materna. Nascido ao norte de Camarões, Aníbal foi comprado do sultão de Constantinopla e presenteado ao tzar Pedro, o Grande, na infância, vindo a se tornar o principal engenheiro militar do exército russo.
Ainda em São Paulo, está prevista uma solenidade na Universidade de São Paulo, dia 9. No dia 27, na Faculdade Oswaldo Cruz, o Coral Melodia e o Conjunto de Dança Troika participam de um concerto que inclui árias de óperas baseadas em textos de Púchkin, além de uma exposição incluindo vinte painéis.
Com a música, a ligação de Púchkin é ampla. Além de ter tido vários poemas musicados por compositores como Glinka e Rachmaninov, ele é o autor de "Mozart e Salieri" -pequena peça de teatro na qual o compositor Salieri é levado pela inveja a assassinar seu colega Mozart, tema retomado pelo dramaturgo britânico Peter Shaffer em "Amadeus" e pelo diretor Milos Forman, em filme homônimo que se tornou célebre.
No Rio de Janeiro, as festividades começaram em 27 de abril, na sede do Pen Clube do Brasil, com palestras do acadêmico Antonio Olinto, do escritor Paulo Bezerra e da professora Maria Lucia de Aragão.
Houve palestras e exposições ao longo do mês de maio, estando marcada para segunda-feira, dia 7, a inauguração de uma exposição de fotos na Biblioteca Nacional, com a apresentação de ato cênico pelos alunos da Escola de Comunicação da UFRJ.
Já a UnB abrigou, em maio, exposição e mesa redonda sobre Púchkin. Ainda em Brasília, a Embaixada da Rússia teve, na última terça-feira, espetáculo de dança da Companhia Balé-Brasil, com vários números inspirados em obras do escritor russo.


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