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Biografia lançada nos EUA revela um Neil Young "do mal'; cantor
tentou barrar obra
O lado obscuro de Neil Young
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que Neil Young atingiu o
topo da parada americana com a
singela canção "Heart of Gold",
há 30 anos, o artista vem sendo
confundido com essa música.
Neil "Coração de Ouro" Young
mantém uma escola para crianças
excepcionais. Neil "Coração de
Ouro" Young participa de eventos beneficentes. Neil "Coração de
Ouro" Young envelheceu sem se
vender à indústria fonográfica.
Bem, tudo isso é verdade. O que
não se podia imaginar, em se tratando de um hippie da velha-guarda, é que Neil "Coração de
Ouro" Young tem um lado escuro. É o que se lê na biografia "Shakey", de Jimmy McDonough, lançada no mês passado nos EUA e
que frequentou a lista dos 15 mais
vendidos do "New York Times".
O nome da obra, "Shakey", vem
de Bernard Shakey, um pseudônimo usado pelo artista. Mas também pode ser traduzido por hesitante, receoso, vacilante, trêmulo.
"O nome é mais do que apropriado", diz o biógrafo. "Ele não tem o
mais sólido dos caráteres, apesar
de eu dizer isso com afeição."
Afeição, diga-se, seriamente abalada após a tentativa de Young de
barrar o lançamento da biografia,
mesmo após conceder 50 horas
de entrevista.
Aos 56 anos, 45 álbuns lançados, sem contar uma dezena de
compilações, Young admite:
"Não é que eu não possa ver os
sentimentos das pessoas. Sempre
que você vai em frente, deixa um
enorme rastro... Muita destruição
atrás de mim. Não sou santo! Posso ser tão sacana quanto qualquer
um. E tenho sido".
"Shakey" é um tijolo de 786 páginas, finalizado após 12 anos de
trabalho, enorme até para fãs. "É
maior que as biografias de Mandela e de Mao Tsé-tung", lembrou
o jornalista Douglas Cruickshank
na revista eletrônica "Salon". E resumiu: "Acontece que nem Mandela nem Mao tocavam uma guitarra que valesse a pena".
A seguir, fala o biógrafo.
Folha - Por que Neil Young quis
barrar o seu livro?
Jimmy McDonough - Eu realmente não sei, para ser honesto.
Em dezembro de 98, entreguei ao
sr. Young uma cópia do manuscrito. Uma semana e meia depois,
recebi um fax dizendo que Young
estava fora do projeto. Não foi dada nenhuma razão. Leia o livro.
Neil adora mudar de idéia.
Folha - Houve processo?
McDonough - Um processo foi
aberto em meu favor, em torno de
US$ 1,8 milhão. Foi desagradável,
mas foram anos e anos da minha
vida nisso e queria ver o livro publicado -o livro que Neil Young
disse que eu poderia escrever. No
fim das contas, ele permitiu a publicação e até contribuiu com algumas correções. Sou grato a ele.
Folha - O livro retrata Neil Young
como um cara mau?
McDonough - Não acho. Cruel e
implacável, sim. É o hippie bonzinho que os fãs imaginam? Acho
que não. É um cara complicado.
Folha - O que dizem os parceiros?
McDonough - Crosby diz coisas
legais sobre Neil. Nash é um tanto
pesado. Stills concordou em ser
entrevistado, mas não falou.
Folha - Os fãs ficarão desapontados com o "lado escuro" de Young?
McDonough - Espero que não.
Neil Young é um grande artista.
Folha - Conte algumas fofocas. É
verdade que ele evita luzes?
McDonough - Não acho que ele
evite luzes (risos). Ele teve alguns
problemas de saúde na infância,
então talvez por isso esse boato tenha surgido.
Folha - O que mais?
McDonough - Ele comprou parte
da Lionel Trains, uma fábrica de
trenzinhos elétricos. Neil nunca
me pareceu tão feliz como quando ele está no comando dos trenzinhos. Ele construiu um galpão
especial para isso em seu rancho.
Lá foi onde eu o vi mais feliz.
SHAKEY - de: Jimmy McDonough.
Quanto: US$ 29,95 (786 págs.).
Onde encomendar: www.amazon.com
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