São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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CRÍTICA

Mérito se resume à virtuose técnica

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Uma manada de cavalos vive tranquilamente por campos do Velho Oeste. As cenas iniciais de "Spirit, o Corcel Indomável" mostram, aos saltos no tempo, o nascimento e o crescimento de Spirit, herói do mais novo desenho dos estúdios DreamWorks, de Steven Spielberg, também produtor de "O Príncipe do Egito", animação superior a essa que agora é lançada para as férias escolares infantis.
O jovem corcel cresce livre na paisagem que se descortina, em design realista, perfeito, sublime. O espectador reconhece o relevo dos parques norte-americanos: Yellowstone, Grand Canyon, Monument Valley. Tudo é de alta tecnologia. Basta escutar a riqueza sonora do filme, que traz mais de mil reproduções vocais de cavalos, com incríveis relinchos.
Spirit domina o ambiente até que surge um índio para domesticá-lo. Em vão. O cavalo é indomável, e o índio, politicamente correto. O jovem Lakota respeita-o, faz amizade com ele assim mesmo e segue seu caminho. A verdadeira peripécia começa quando Spirit é capturado pelos homens brancos colonizadores. Mas, infelizmente, não é desenvolvida o suficiente, detalhada, criativa.
A trama se limita a mostrar a tensão entre a rebeldia do cavalo e as tentativas fracassadas dos soldados dominadores, que prendem o cavalo com fortes correntes, depois de Spirit ter derrubado todos os candidatos a cavaleiros.
É esse índio Lakota que surge novamente para salvar Spirit das garras da civilização. Contrariando os fatos históricos, a dupla consegue se libertar. Serão felizes para sempre, num mundo sonhado, Spirit e Chuva, a namorada dele, e o índio Lakota, pelos prados e montanhas.
O final feliz destrói qualquer tentativa de dar inteligência ao enredo. O motivo principal do desenho animado -a reflexão sobre a conquista do Velho Oeste- não é levado adiante. "Spirit, o Corcel Indomável" iguala-se então à maioria dos produtos, para crianças, da indústria cultural, salva ultimamente por "Shrek", este, sim, complexo e estimulante. O mérito do trabalho se resume à virtuose técnica, exatamente como a sociedade que o filme reproduz, acrítica e incapaz de enxergar a si própria.
Isso não significa que não valha a pena levar as crianças para ver "Spirit". O filme entretém e contém aspectos curiosos. Um deles é revelar o mundo através dos olhos do protagonista, sem necessidade de fazer os animais falarem para o espectador compreender suas ações. Nenhum animal precisa falar, como observaram leitores de sete anos na Folhinha de 29 de junho.


Spirit, o Corcel Indomável
Spirit - Stallion of the Cimarron   
Direção: Kelly Asbury e Lorna Cook
Produção: EUA, 2002
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Belas Artes, Eldorado, Interlagos e circuito



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