São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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Tinhorão compila música de rua do país

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Forrós, serenatas, pregões, circos, bandas de coreto: protagonistas e palcos de manifestações musicais populares urbanas são o foco de "Os Sons que Vêm da Rua" (240 págs., R$ 32), que José Ramos Tinhorão escreveu nos anos 70, e está sendo relançado pela Editora 34.
Trata-se de um daqueles relançamentos que equivalem a um lançamento. Com o título original de "Música Popular: os Sons que Vêm da Rua", a obra foi editada originalmente em 1976, com a rubrica "Edições Tinhorão".
Na época, o pesquisador arcou com as despesas de impressão. "Eu tinha que botar um nome. Como o Brasil é uma esculhambação, eu pus assim: Edições Tinhorão. Mas não existe esse registro", conta. Rodaram-se 1.500 exemplares, esgotados.
A obra está dividida em quatro partes: "As Vozes das Ruas", "A Música das Ruas", "Os Palcos do Povo" e "Os Salões do Povo". Centrado na música popular ligada aos logradouros públicos das cidades, fala desde fenômenos extintos, como os vendedores de álbuns de modinhas, até os onipresentes tocadores de rua, passando por gafieiras, realejos e os pianistas populares, os "pianeiros".
O material de pesquisa vem do acervo que Tinhorão, nascido em Santos, em 1928, acumulou, e que foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles, em 2000. São 7.000 livros e revistas, 30 mil recortes de jornais e mais de 11 mil discos, e está em constante atualização, sob supervisão de Tinhorão, o que certamente o ajudou a incluir na obra fenômenos recentes, como o forró da classe média.
"A classe média se interessa pelo forró como um estrangeiro, que vem para o Brasil ver bunda de mulata, samba, como coisa exótica. Só que uma mocinha da classe média paulistana não vai a um forró verdadeiro, senão quem tira ela para dançar é um nordestino que está suado, com catinga."
Personagens das ruas de São Paulo surgidos depois da publicação da primeira edição, como o cantor Edson Cordeiro, os grupos de origem andina que tocam no centro, ou Charles Ribeiro Gonçalves, que emergiu no final dos anos 80 como um fenômeno mirim da flauta para depois cair na criminalidade, também estão presentes. "Pode procurar em qualquer literatura, não tem um livro como esse", proclama Tinhorão.
"Eu vou dizer uma coisa para você, sem vaidade: todos os meus livros são inaugurais." E enumera: "Quem foi o primeiro a fazer as relações da música popular com o disco, o teatro e o cinema? E o primeiro que focalizou as relações da música popular com o teatro de revista e o cinema? Qual foi o primeiro cara que procurou reunir num livro informações sobre som produzido por negro no Brasil?"
Ele responde a essas perguntas sempre com um "eu". E o entusiasmo não arrefece quando perguntado sobre o próximo projeto. "Ah, rapaz, é um negócio sensacional", fala, sobre o livro "O Rasga: uma Dança Negro-Portuguesa", a ser editado no Brasil e em Portugal. "Não tem nem em dicionário nem em enciclopédia. Ninguém sabe que porcaria de rasga é essa. Eles vão saber da existência de uma dança de negro lisboeta através do Tinhorão".


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