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Tinhorão compila música de rua do país
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Forrós, serenatas, pregões, circos, bandas de coreto: protagonistas e palcos de manifestações
musicais populares urbanas são o
foco de "Os Sons que Vêm da
Rua" (240 págs., R$ 32), que José
Ramos Tinhorão escreveu nos
anos 70, e está sendo relançado
pela Editora 34.
Trata-se de um daqueles relançamentos que equivalem a um
lançamento. Com o título original
de "Música Popular: os Sons que
Vêm da Rua", a obra foi editada
originalmente em 1976, com a rubrica "Edições Tinhorão".
Na época, o pesquisador arcou
com as despesas de impressão.
"Eu tinha que botar um nome.
Como o Brasil é uma esculhambação, eu pus assim: Edições Tinhorão. Mas não existe esse registro", conta. Rodaram-se 1.500
exemplares, esgotados.
A obra está dividida em quatro
partes: "As Vozes das Ruas", "A
Música das Ruas", "Os Palcos do
Povo" e "Os Salões do Povo".
Centrado na música popular ligada aos logradouros públicos das
cidades, fala desde fenômenos extintos, como os vendedores de álbuns de modinhas, até os onipresentes tocadores de rua, passando
por gafieiras, realejos e os pianistas populares, os "pianeiros".
O material de pesquisa vem do
acervo que Tinhorão, nascido em
Santos, em 1928, acumulou, e que
foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles, em 2000. São 7.000 livros e revistas, 30 mil recortes de
jornais e mais de 11 mil discos, e
está em constante atualização,
sob supervisão de Tinhorão, o
que certamente o ajudou a incluir
na obra fenômenos recentes, como o forró da classe média.
"A classe média se interessa pelo forró como um estrangeiro,
que vem para o Brasil ver bunda
de mulata, samba, como coisa
exótica. Só que uma mocinha da
classe média paulistana não vai a
um forró verdadeiro, senão quem
tira ela para dançar é um nordestino que está suado, com catinga."
Personagens das ruas de São
Paulo surgidos depois da publicação da primeira edição, como o
cantor Edson Cordeiro, os grupos
de origem andina que tocam no
centro, ou Charles Ribeiro Gonçalves, que emergiu no final dos
anos 80 como um fenômeno mirim da flauta para depois cair na
criminalidade, também estão presentes. "Pode procurar em qualquer literatura, não tem um livro
como esse", proclama Tinhorão.
"Eu vou dizer uma coisa para
você, sem vaidade: todos os meus
livros são inaugurais." E enumera: "Quem foi o primeiro a fazer as
relações da música popular com o
disco, o teatro e o cinema? E o primeiro que focalizou as relações da
música popular com o teatro de
revista e o cinema? Qual foi o primeiro cara que procurou reunir
num livro informações sobre som
produzido por negro no Brasil?"
Ele responde a essas perguntas
sempre com um "eu". E o entusiasmo não arrefece quando perguntado sobre o próximo projeto.
"Ah, rapaz, é um negócio sensacional", fala, sobre o livro "O Rasga: uma Dança Negro-Portuguesa", a ser editado no Brasil e em
Portugal. "Não tem nem em dicionário nem em enciclopédia.
Ninguém sabe que porcaria de
rasga é essa. Eles vão saber da
existência de uma dança de negro
lisboeta através do Tinhorão".
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