São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Equipe do filme participou de aulas e comeu em restaurantes badalados

DA ENVIADA A PARIS

Se antes de produzir "Procurando Nemo" os animadores da Pixar fizeram expedições de mergulho e para fazer "Carros" eles visitaram autódromos, em "Ratatouille" a equipe participou de aulas de cozinha e comeu em restaurantes parisienses famosos (Taillevent, Guy Savoy, Tour d'Argent).
"Você senta e é avisado que o chef quer fazer uma refeição especial. Você pensa: "Fantástico, isto vai ser ótimo" -e foi ótimo, não me entenda mal. Mas você não sabe quanto tempo vai durar, quantos pratos vai comer e quanto gastará. E, finalmente, depois de quatro horas e meia, comemos nada menos que 17 pratos. E o menu tinha 29. Sei que soa como: "Oh, coitado, pobre homem". Mas, literalmente, foi doloroso", conta o produtor Brad Lewis.
Por ter se envolvido no projeto quando ele já estava em andamento, o diretor, Brad Bird, fez só uma viagem para Paris e visitou uns cinco restaurantes. "Minha aproximação foi estupidamente americana. Costumo comer uma salada antes de um bom prato principal e, ocasionalmente, uma sobremesa. Se você colocar um prato na minha frente com três pedacinhos delicados, vou comer. Não tem problema. Quando o próximo chegar... hum, mais um, OK. Uma hora e meia mais tarde... "Oh, Deus, mais?". Eles não param nunca de vir [risos]."
A equipe de "Ratatouille" contou ainda com a consultoria do conceituado chef Thomas Keller, do French Laundry, da Califórnia, e muitos detalhes da animação são inspirados na cozinha dele. Foi Keller quem criou a apresentação do prato que dá nome ao filme e toca emocionalmente o pálido e esnobe Anton Ego (voz de Peter O'Toole), um crítico de restaurantes que escreve seus mordazes textos numa sala com formato de caixão e cuja máquina de escrever tem uma caveira.
"Tivemos de pensar no que seria uma comida transformadora. O que poderia transportá-lo [o crítico] de volta à infância de uma maneira proustiana. Quando peguei uma camada de legumes e ela se compactou, percebi naquele momento como o prato seria", conta Thomas Keller, em entrevista concedida por e-mail à Folha.
Reproduzir as comidas vistas na animação foi, segundo a equipe da Pixar, uma das partes mais difíceis e trabalhosas. "Não precisa ser, necessariamente, real como uma fotografia. Mas tem de ser delicioso. E, algumas vezes, fazer algo parecer delicioso significa exagerar em um aspecto, fazer uma caricatura. As pessoas têm saído do filme com fome. Acho que deu certo", comemora Bird.
Mas o processo de familiarização não se deu só com as comidas. Ao notar que Remy estava com uma aparência muito humanizada, Bird pediu para refazerem os modelos do ratinho. O jeito encontrado para pegarem com precisão o comportamento dos animais foi conviver por um longo tempo com ratos de laboratório.
Outro desafio foi desenvolver a animação seguindo a opção de Bird pela comédia física em detrimento do diálogo entre os dois personagens principais -Remy entende a língua de Linguini, mas o ajudante não fala a língua do rato.
Acenando a cabeça, levantando a sobrancelha e encolhendo os ombros, Remy se faz entender, e a comunicação entre ele e Linguini é quase tão boa quanto em um filme mudo de Chaplin ou de Buster Keaton, humoristas em quem Bird e Lasseter se inspiram.


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