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Só no gogó
Conheça
13 nomes da nova geração de cantores brasileiros, que participam ativamente de todas as etapas de criação
dos álbuns
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não, este não é um texto para
anunciar "uma nova safra de
cantoras brasileiras", como os
que são publicados infalivelmente pelo menos uma vez por
ano. Não que elas, as cantoras,
tenham diminuído a rapidez
com que surgem (e desaparecem). É que agora o fenômeno,
que de fato existe, é outro.
Desde o começo dos anos
2000, pelo menos, as moças andam dividindo o espaço de passarinhas com cantores do sexo
masculino.
E isso não acontecia com tal
intensidade por aqui desde que
a explosão das bandas de rock
dos anos 80 transformou o cantor solto em uma espécie em
extinção.
O que pode explicar essa retomada do cantor solo, desvinculado do papel de vocalista de
uma banda? Para entender tal
movimento, a Folha conversou
com 13 desses novos artistas.
Para Rodrigo Campos, cantar acabou se tornando prática
fundamental para que o compositor escoasse sua produção.
"Até uns dez anos atrás, as cantoras ainda estavam atrás de
uma [canção] inédita do Chico
Buarque. Até que elas pararam
de esperar e passaram a compor", diz. "Foi então que veio a
necessidade de fazer meu próprio disco e cantar."
"Não seria a hora de gravarmos as músicas das meninas?",
inverte Max Sette. Ele aposta
que a atual retomada masculina aos microfones só foi possível graças à falência dos esquemas viciados de venda e divulgação de música.
"Críticos, diretores de TV,
programadores de rádio, diretores de gravadoras -a maior
parte das pessoas que ocupam
esses cargos é homem", diz.
"Dada a promiscuidade desses
"cartolas do sistema", a simpatia e a magia das mulheres predominam em relação à nossa."
Fim do rock?
Dani Black não acredita numa
"inversão da corrente", em
que o surgimento de tantos
cantores em carreiras individuais sinalizasse uma falência
do formato banda de rock.
"Estamos assistindo a um movimento de equivalência em
que o homem também pode
assumir de forma tranquila o
papel de intérprete, assim como o de "band leader'", diz.
Comprovando a teoria de
Dani, o ex-cantor solo Nervoso
acaba de lançar seu disco como
vocalista de uma banda, batizada Nervoso e os Calmantes.
Ele lembra que bandas brasileiras originalmente formadas
por jovens remetem a rock.
"Mutantes é rock. O Terço é
rock. Legião Urbana é rock",
enumera. "Assim, Nervoso e os
Calmantes serão uma banda de
rock mesmo que faixas do disco
tenham sido arranjada para
quarteto de cordas."
É rock ou não é? Os rótulos
valem pouco para esta geração.
Diogo Poças afirma que no
mercado publicitário existe
uma necessidade de rotular tudo, como se o que será feito não
pudesse ser inovador ou único.
"Sinceramente, isso não é
verdade. Tudo o que é novo e
verdadeiro é único", afirma.
"Esse raciocínio vale para colocar uma esperança sobre nós,
que somos cantores, autores e
intérpretes. E únicos, sim!"
Autossuficiência
Além de assinar sozinha as capas de seus álbuns, a maioria
dos rapazes dessa geração se
viu sem grandes dificuldades
em todas as etapas do processo: compõem, tocam, gravam,
produzem.
"Tem mais gente fazendo
música de banda sozinho, com
seus computadores. E mais intérpretes ligados na música como um todo, e não como mera
base de apoio para seu cantar",
contribui Jonas Sá.
Romulo Fróes considera que
esse olhar do artista sobre todas as etapas do trabalho gerou
um capítulo novo dentro da
música brasileira.
"Para dizer o mínimo, o som
dessa galera trouxe o Caetano
[Veloso] de volta, fazendo-o
compor dois grandes discos
inspirados por esse som", diz,
referindo-se aos últimos trabalhos do veterano.
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