São Paulo, Segunda-feira, 05 de Julho de 1999
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HQ
Fernando Gonsales lança amanhã, em SP, coletânea totalmente colorida com mais de 200 tiras do anti-herói roedor
Agora Níquel Náusea rói também livros

ERIKA SALLUM
da Reportagem Local

Quando tinha uns 12 anos, o cartunista paulistano Fernando Gonsales, 38, criava uma pulga em um vidrinho. Apaixonado por bichos desde muito cedo, na hora de alimentar o inseto, não passava apertos: abria o frasco, encostava-o na própria barriga e deixava a pulguinha ali, chupando seu sangue. "Ué, de que outro jeito eu poderia dar comida para ela?", explica hoje.
Mais de duas décadas depois, o mesmo Gonsales transformou seu amor por animais num meio de vida. Primeiro, abandonou a veterinária e, em 1985, decidiu participar de um concurso para ilustradores promovido por esta Folha. Começava ali a fama de um dos mais geniais anti-heróis das HQs nacionais, o rato Níquel Náusea, espécie de primo pobre do Mickey Mouse.
Publicadas diariamente na Ilustrada e em diversos jornais do país, as tirinhas de Níquel e seus amigos chegam ao formato livro pela primeira vez em sua história, inaugurando a coleção CyberComix, da editora Bookmakers (leia texto abaixo). Totalmente colorido, "Os Ratos Também Choram", coletânea com mais de 200 histórias do "Reino" de Gonsales, será lançado amanhã em São Paulo.
Mas quem está por trás das sacadas inteligentes desse bando de ratos de esgoto, baratas viciadas em inseticida, camelos alcoólatras, amebas falantes e até uma bactéria chamada Cíntia?
Formado em veterinária e biologia (curso que levou 17 anos para terminar), Gonsales é tímido, simples, mora num sobrado na Vila Mariana (zona sudoeste de SP), é casado, não tem filho e, por convicção, não cria animais. "Aqui não tem espaço, fico com pena."
Sempre gostou de desenhar, mas suas atividades artísticas nos tempos de faculdade se limitavam a ilustrar jornais do centro acadêmico. Formado, chegou a trabalhar por um ano na hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.
Aulas de desenho, nunca tomou. Sem "botar muita fé", venceu o concurso da Folha e teve de aprender a criar, dia após dia, tiras de humor. Tarefa nada fácil, principalmente se seus vizinhos forem "dragões" como Laerte, Glauco e Angeli. "Minhas piadas eram muito fracas no início, quase desisti de tudo. Mas aprendi a não ficar muito severo, senão você perde a espontaneidade e aí já viu..."
Por dez anos, Gonsales editou a revista "Niquel Náusea", fechada desde 1997. Num quartinho nos fundos de sua casa, guarda pilhas de exemplares encalhados da publicação, que pretende vender via Internet -seu site, www.niquel.com.br, será inaugurado brevemente. Porém ainda não está preparado para responder e-mails dos fãs -ainda não se conectou à rede. Entre retraído e desconfiado, no fim da entrevista pergunta: "E essa tal de Internet, é legal?".


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