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"NEM TUDO É O QUE PARECE"
Jogos, trapaças e um roteiro fumegante
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira impressão que se
tem de "Nem Tudo É o que
Parece" não é lá das melhores: é
dirigido por Matthew Vaughan,
um amigo de Guy Ritchie -marido de Madonna- e produtor
de dois de seus filmes: "Snatch" e
"Jogos, Trapaças e Dois Canos
Fumegantes". Ou seja: vem aí
mais um derrama-sangue de
gângsteres em ritmo de videoclipe. Mas não: "Nem Tudo É o que
Parece" é o que diz seu próprio título brasileiro: bem mais consistente do que os "originais".
Quem ganha pontos para o filme é Daniel Craig, convincente na
pele de XXXXX (ninguém fala o
seu nome), um classudo e discreto traficante de Londres que, após
alguns bem-sucedidos negócios,
pretende se aposentar. Mas, antes
disso... ele tem mais dois favores a
fazer para Jimmy Price, um chefão das drogas: 1) Procurar a filha
de Eddie Temple, um poderoso
amigo desse chefão; 2) Intermediar a compra de 1 milhão de
comprimidos de ecstasy.
As coisas não saem como planejado e, nas primeiras reviravoltas
do roteiro, XXXXX tem as primeiras dúvidas sobre o desaparecimento da garota e passa a ser
procurado por um bando de criminosos de guerra sérvios, fulos
da vida depois de terem seu ecstasy roubado.
Craig torna seu personagem
simpático, não gosta de pegar em
armas e, mais do que um criminoso, age como um "empresário
atuando no ramo das drogas"
-aos poucos isso vai mudando.
Já com dinheiro na mão, XXXXX
está atrás de status (Eddie Temple
já nasceu com status; Jimmy Price
comprou seu status; agora é
XXXXX quem tenta comprar seu
passe. Fica para o final do filme se
ele consegue ou não).
A trama é ágil e costurada por
um roteiro bem amarrado; a edição de Vaughan é ligeira, mas não
frenética. As cenas de brigas são
um meio, e não um fim em si, como nos filmes de Guy Ritchie.
Enquanto a violência de Ritchie
é estilizada demais, ensaiada demais, bonita demais -mais ou
menos como o sertão idílico que
aparece em alguns filmes brasileiros-, Vaughan usa o artifício
com crueza, mas sem exageros
-é emblemática a cena em que
um capanga de XXXXX espanca
um ex-amigo num restaurante e
termina o serviço despejando um
jarro de chá quente na cara do sujeito.
"Nem Tudo É o que Parece"
tem estilo, charme e, diferentemente dos filmes de Ritchie, deve
envelhecer bem. Vaughan construiu um thriller em que a forma
anda com a substância.
Nem Tudo É o que Parece
Layer Cake
Produção: Reino Unido, 2004
Direção: Matthew Vaughan
Com: Daniel Craig, Kenneth Cranham
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco, Frei Caneca Unibanco
Arteplex e HSBC Belas Artes
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