Especialista falará sobre vinda de Welles ao Brasil

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Depois de entrar na rota dos megashows, dos supercircos e dos espetáculos da Broadway, o Brasil passa a integrar, a partir de amanhã (para convidados; segunda para o público), outro circuito internacional, desta vez de caráter mais acadêmico, com a realização da 13ª edição do Visible Evidence, o principal simpósio sobre documentários.
Será a primeira vez que a caravana de pesquisadores e realizadores virá à América do Sul. A Duke University (EUA) foi a sede do primeiro encontro, em 1993. Outras instituições de ensino norte-americanas, como a University of Southern California (USC) e Harvard, hospedaram as edições seguintes.
A internacionalização começou em Cardiff (País de Gales) e passou por Utrecht (Holanda), Brisbane (Austrália), Bristol (Reino Unido) e Montréal (Canadá) antes do desembarque para São Paulo, que promoverá mesas-redondas e exibições de segunda a quinta da próxima semana, na Cinemateca Brasileira, e para o Rio, onde haverá projeções e debates no dia 12, no Memorial Getúlio Vargas.

Nascimento
"A inspiração para criar o Visible Evidence nasceu da sensação, entre um grupo de pesquisadores internacionais, de que pouca atenção, popular e acadêmica, era dedicada ao documentário", afirma Michael Renov, professor da USC e um dos fundadores do seminário.
Apesar disso, lembra Renov, "muitas pessoas compartilhavam um forte interesse, até mesmo paixão, por ele, e os debates públicos em torno da verdade no cinema faziam com que aquele fosse o momento certo para iniciar um simpósio internacional e itinerante".
"Aquele momento" ocorreu logo em seguida à transmissão, pela TV, das imagens em que policiais de Los Angeles espancavam Rodney King. Além dos encontros anuais, que tratam não só do documentário no cinema e na TV, mas também na internet e em mídias interativas, o Visible Evidence é o selo da série de 16 volumes temáticos publicada pela University of Minnesota Press desde 1997.
"É o mais importante conjunto bibliográfico dedicado ao documentário, em qualquer língua ou país", observa o crítico Amir Labaki, diretor do festival É Tudo Verdade, articulista da Folha e coordenador brasileiro do Visible Evidence, ao lado de Maria Dora Mourão, professora da Universidade de São Paulo e diretora do Cinusp.
Labaki considera que será "uma oportunidade espetacular de intercâmbio de idéias e contato entre os acadêmicos e pesquisadores do Brasil e da América Latina e seus colegas do resto do mundo, com ênfase para a zona anglofônica".

Reflexão brasileira
Ele diz que, para os visitantes, o encontro oferecerá "uma chance especial para conhecer melhor a riqueza da atual produção e da reflexão brasileira e latino-americana". "Muitas sementes serão plantadas. Para o É Tudo Verdade, é outro importante reconhecimento internacional do empenho nestes 13 anos para o desenvolvimento e a difusão da cultura do documentário no Brasil."
Uma das principais atrações do seminário será a participação de Catherine Benamou, professora da University of Michigan e especialista na passagem de Orson Welles pelo Brasil para a realização do inacabado "É Tudo Verdade".
"Mostrarei trechos inéditos do filme, que fazem parte de um projeto de preservação e compilação da metragem que "sobrou" do documentário que produzimos em 1993", explica Catherine. "Minha apresentação na conferência trata dos caminhos possíveis de resgate para respeitar o esforço de Welles, o espírito de intercâmbio intercultural entre pessoas de lugares diversos no hemisfério e para assegurar a contribuição do filme à memória da época."
Ela aponta, entre os principais temas a discutir hoje, "a censura e a monopolização dos meios de comunicação por grandes corporações" e "o uso de novas tecnologias para facilitar a exibição e a divulgação".
Os destaques para Labaki são "a expansão do documentário para além das fronteiras tradicionais, como a intersecção com a produção ficcional e o cinema de animação, e a convergência entre o universo das artes visuais e o documentário".


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