Show de lançamento do CD no Canecão, no Rio, traz músicas com ritmos como fox-trot, bolero, valsa e samba

Depois de sete anos sem gravar CD, o sambista carioca quer lançar um disco por ano até 2030; "combinei com são Pedro e estou garantido"

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Nada de "Agoniza Mas Não Morre" nem "As Quatro Estações", clássicos que alçaram o ex-militar Nelson Sargento à patente de sambista estrelado.
"Não agüento cantar essas músicas que todo mundo sempre pede", afirma o mangueirense que, aos 84 anos completados no último dia 25, mostra que entende não só de samba.
Entre as 16 músicas do novo disco tem fox-trot, bolero e até valsa. Mas, calma, tem samba também. Tanta variedade justifica o título, "Versátil" -adjetivo que se aplica a Nelson: além de compor e cantar, o ex-pintor de paredes já pintou mais de 5.000 quadros, lançou três livros e atuou em nove filmes.
O disco, que deve chegar às lojas nesta semana, é o décimo da carreira, mas quatro foram lançados só no Japão e um, produzido em vinil em 1990 como um projeto especial do extinto Clube dos Criadores de São Paulo, era um brinde e nunca chegou às lojas. Portanto, é o quinto à venda no Brasil.
Sete anos após o último CD, "Flores em Vida", Nelson exibe em "Versátil" sete inéditas entre as 16 músicas do disco. Chama atenção a valsa "Rosa Maria, Flor Mulher", interpretada ao piano por Wagner Tiso, uma das quatro participações do disco -Zeca Pagodinho, dona Ivone Lara e a Velha Guarda da Mangueira são as outras.
"O Zeca queria gravar "Falso Amor Sincero", mas eu não deixei. Ele sempre cantou "Ciúme Doentio" em shows, mas nunca havia gravado, então eu pedi que fosse essa", diz Nelson, que compôs a música com Cartola.
Sobre "Falso Amor Sincero", Nelson se apressa em dizer que a letra -que diz "o nosso amor é tão bonito, ela finge que me ama e eu finjo que acredito"- não se aplica ao romance dele com Evonete Belizário, sua mulher, alvo de beijos e carinhos durante a entrevista.
Dono da gravadora independente Olho do Tempo, responsável por "Versátil", Agenor de Oliveira se tornou parceiro constante de Nelson. A música que iniciou a parceria é "Sinfonia Imortal", cujo verso final, em que Nelson esbanja lirismo, é "o que eu desejo afinal é fazer das nossas vidas uma sinfonia imortal". Para iniciá-la, Oliveira não deixou por menos: "Nós dois somos um naipe de orquestra, raios de sol pela fresta, nas partituras do amor". Outro destaque do CD é "Século do Samba", samba-enredo que Nelson compôs para a Mangueira em 1999 -e que, derrotado, não foi para a avenida.
Para lançar o CD, Nelson Sargento fará pela primeira vez um show no Canecão em que é o artista principal. "Versátil" é um projeto que deveria comemorar os 82 anos de Nelson, mas foram necessários dois anos para viabilizar o disco -que, agora, celebra seus 84 anos. Para 2009 não faltam projetos. Nelson pretende apresentar a série "Sala de Recepção", no Canal Brasil, entrevistando músicos para contar a história de 12 compositores. Outros planos são gravar o primeiro DVD, lançar no Brasil quatro CDs produzidos para o mercado japonês e transformar em CD o vinil de 1990.
"Quero lançar um CD por ano até 2030", anuncia Nelson.
"Já combinei com são Pedro e até lá estou garantido", diz.
Música não falta: a dupla Nelson e Oliveira já celebrou até uma parceria póstuma com Cartola, morto em 1980. Ele havia deixado uma canção incompleta. Nelson concluiu a música e Oliveira fez a letra da parte final. "Foi uma responsabilidade e tanto, pois eu precisava manter o nível", diverte-se Oliveira. Mas, por enquanto, essa continua inédita.