São Paulo, quarta-feira, 05 de agosto de 2009

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MÚSICA

Músico Victor Assis Brasil ressurge em CD inédito

Gravado originalmente em 1968, "Trajeto" é lançado pela 1ª vez no formato digital

Saxofonista, que morreu prematuramente em 1981, ainda é pouco conhecido fora do círculo de fãs da música instrumental

8.jan.77 - Agência O Globo
O saxofonista Victor Assis Brasil, de ‘Trajeto’; disco reúne faixas
como ‘Round about Midnight’ e ‘Mercy,Mercy,Mercy’


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Passadas quase três décadas desde a morte do saxofonista Victor Assis Brasil (1945-1981), aparece pela primeira vez no país em CD um de seus mais importantes trabalhos. Segundo disco do saxofonista, "Trajeto" foi gravado originalmente em 1968 e representa uma singular oportunidade de ver esse raro músico em ação.
O disco poderia facilmente ter feito parte do catálogo da lendária gravadora Blue Note, que, na década de 60, contava com figuras do porte de Lee Morgan, Herbie Hancock e Jackie McLean. Aqui, pouco se ouve a sonoridade mais brasileira que apareceria em outros trabalhos de Assis Brasil: é jazz mesmo, e de grande qualidade.
Em sete faixas, o sax de Assis Brasil é acompanhado por diferentes músicos em variadas formações. O clássico "Round about Midnight", imortalizado no piano de um de seus compositores, Thelonious Monk, é relido em "Trajeto" no formato de trio. "Mercy, Mercy, Mercy", do tecladista Joe Zawinul, é tocada em octeto. "Search for Peace" (McCoy Tyner) surge interpretada por um quinteto.
Apesar de ter sido um prolífico compositor, apenas uma faixa de sua autoria, "Stolen Stuff", aparece para abrir o álbum.
Como não é raro ocorrer no país, Assis Brasil ainda é bastante desconhecido fora do círculo dos que apreciam música instrumental. Em pouco mais de 15 anos de carreira, não chegou a gravar dez discos. Mesmo assim, alguns seguem inéditos em CD, como seu primeiro trabalho, "Desenhos", de 66, e "Victor Assis Brasil Quinteto", de 79 -talvez seu melhor disco.
"Em um país como o nosso, onde tudo é esquecido, não é de surpreender o desconhecimento sobre a obra do Victor. Muita gente não sabe seu valor. Provavelmente seja mais conhecido e admirado nos EUA", afirma João Carlos Assis Brasil, pianista de formação erudita e irmão do saxofonista.
Na década de 60, frequentou o Beco das Garrafas, reduto da música instrumental no Rio por onde circulavam nomes não só da bossa nova, mas também do nascente samba-jazz.
Participante das jam sessions dominicais do Little Club, conviveu com figuras como Paulo Moura (que toca em "Trajeto"), Raul de Souza e Luiz Eça. No final da década de 60, foi para os Estados Unidos, onde estudou composição na Berklee School. Por lá, teve a oportunidade de tocar ao lado de nomes como Dizzy Dillespie, Clark Terry e Ron Carter.
"Victor compunha como quem toma água, deixou umas 300 partituras. E grande parte dessa música permanece inédita até hoje." Seu irmão decidiu há pouco doar essas partituras para a Escola de Música Villa-Lobos, que fica no Rio, na tentativa de fazer com que jovens músicos tenham contato com a obra do compositor.
Assis Brasil não chegou a completar 36 anos. Morreu de uma rara doença circulatória.


TRAJETO
Artista: Victor Assis Brasil
Gravadora: Atração Fonográfica
Quanto: R$ 20, em média
Avaliação: ótimo




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