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"Não há glamour em escrever", afirma Correia de Brito
Escritor cearense, que debate hoje, diz que leva-se "cem anos para ser compreendido"
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
Ronaldo Correia de Brito
está atormentado com uma
lesão cervical, resultado das
horas em frente ao computador para finalizar "Retratos
Imorais", seu novo livro.
"Escrever não é fácil, não
há glamour. E depois você escreve e espera cem anos para
ser compreendido. E às vezes
não é. A ânsia por dar sentido
à escrita é algo dolorosa."
Por conta desse tormento,
diz que pensa frequentemente em desistir do ofício, no
que é dissuadido pelo colega
Raimundo Carrero -ganhador neste ano do Prêmio São
Paulo de Literatura, vencido
em 2009 por Brito- e pelo
editor Marcelo Ferroni, da Alfaguara, por onde publica.
Talvez as dores da escrita
venham sendo, no seu caso,
amenizadas cada vez mais,
senão por compreensão, por
maior reconhecimento.
Cearense radicado no Recife, 59 anos, médico e dramaturgo, Correia de Brito foi
alçado ao primeiro time da literatura com a conquista do
Prêmio SP, por "Galileia".
Hoje, às 15h, estará na
Flip, na mesa "Fábulas Contemporâneas", com Reinaldo
Moraes e Beatriz Bracher.
"Serão escritores despojados
dos adereços dos livros, falando sobre narrativas."
"Retratos Imorais" nasceu
de uma provocação do editor
Plínio Martins Filho, da Ateliê Editorial, ao ouvir Correia
de Brito ler um dos contos.
IMAGENS
O autor tinha histórias
guardadas há 40 anos, "contos refugados, de gaveta".
Martins quis os refugos, mas,
em vez disso, Brito os juntou
com narrativas recentes e publica agora o saldo.
Receoso da falta de unidade em contos tão distantes
cronologicamente, percebeu
que todos tinham imagens
em sua raiz. O conto de abertura tem influência de fotos
de Robert Polidori; outro foi
reescrito depois que viu imagens de Patrick Bogner.
Brito escreve desde os 16.
Suas peças infantis são sucesso em Pernambuco. Mas
só publicou literatura há dez
anos. "Você se torna escritor
quando começa a publicar."
Se o processo criativo é sacrificante e o produto dele
não menos, não resta prazer
quando tudo termina? "Há
um deleite, um leitinho materno no fim das contas para
pagar tudo isso", diz ele.
(FABIO VICTOR)
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