São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2000


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O artista Vik Muniz expõe em São Paulo dípticos criados com crianças carentes de Salvador
Artista paulistano prepara, para fevereiro de 2001, individual no Whitney Museum de Nova York
Esse obscuro objeto do desejo

Divulgação
Obras do artista Vik Muniz, que serão expostas a partir de hoje em São Paulo; o trabalho faz parte da série "O Objeto Invisível", feita com patrocínio do Projeto Axé


FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Vik Muniz não vem a São Paulo para apresentar sua série "O Objeto Invisível", exposta, a partir de hoje, na galeria Camargo Vilaça.
Artista plástico e fotógrafo paulistano radicado nos EUA desde os anos 80, permanece em Nova York preparando outras duas mostras: uma para o Frick Museum and Culture Center, em Pittsburgh, que abre dia 7, e outra para o Whitney Museum, programada para fevereiro.
"Essa agitação toda, às vezes, é meio chata. Não dá tempo de ficar de bobeira", disse ele, em entrevista por telefone. Sobre "O Objeto Invisível" -inédito em São Paulo-, Vik o define como um trabalho de colaboração. A série fez parte da exposição "A Quietude da Terra: Vida Cotidiana, Arte Contemporânea e Projeto Axé".
Foi uma criação coletiva entre garotos carentes de Salvador e outros 18 artistas, que ficou exposta, até o mês passado, no MAM (Museu de Arte Moderna) da Bahia.
"Escolhi trabalhar com crianças que tinham acabado de sair das ruas e notei que elas tinham uma relação com imagem. Era uma mistura de desejo e sofrimento."
Muniz mostrou ao seu grupo uma cópia da escultura "L'Object Invisible", de Alberto Giacometti (1901-66). "Eles sabiam que era a figura de uma mulher africana que tinha um sonho, um desejo."
A partir daí, o artista propôs que cada um imaginasse o que mais queria ter. Os seus 20 colaboradores produziram, em papel cartão, modelos de objetos de desejo, que foram fotografados em negativo.
Muniz também clicou os meninos. O corte proposital elimina o rosto dos garotos. "São crianças genéricas, que aparecem segurando o nada de formas diferentes."
O gesto das mãos representa a forma de um objeto, que só pode ser visto pelo espectador na foto. Os originais foram colocados em sacos de veludo preto, que deram origem a uma escultura de Muniz.
"Os meninos tinham o poder de ter qualquer coisa na hora da criação. A idéia de esconder os objetos é uma espécie de pequena vingança. Já que não podem realizar seus desejos, privam o espectador de ter acesso ao original."
Alguns sacos foram amarrados com muitos nós, retratando algo proibido e misterioso. "Há objetos escondidos para sempre."
A execução do trabalho foi gravada em vídeo -técnica que Muniz experimenta de forma profissional pela primeira vez. "Foi tudo muito gratificante."
As imagens exibem sucessivos movimentos mímicos de mãos traçando formas imaginárias.
Na mostra, as fotos em preto-e-branco formam dípticos: a imagem dos meninos e o objeto correspondente. No chão, os sacos com as bocas amarradas, e, por meio de um monitor, as imagens mímicas da experiência.
Muniz, que participou da bienal do Whitney Museum, em Nova York, não ficou satisfeito com sua presença: "Foi uma bienal de curadores, escolheram uma peça e a colocaram lá. Foi legal, mas queria mostrar uma coisa nova".
A obra de Muniz reproduz em uma foto a imagem criada com chocolate líquido da pintura "Rafts of the Medusa", do francês Théodore Géricault (1791-1824).
Conhecido por usar suportes inusitados em fotografias (chocolate, açúcar, terra, lixo), Muniz mostra em São Paulo uma obra mais "convencional". "É a foto como a gente conhece."
Sem tempo para o ócio, ele vai expor, ainda neste ano, suas obras em duas retrospectivas -uma em Amsterdã e outra em Nova York. A norte-americana vem para o Brasil em 2001.
Para a individual no Whitney Museum, o artista antecipou que vai reproduzir oito obras minimalistas do acervo do museu, usando a poeira da instituição. "Já recebi um saco enorme de pó."


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