São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2000


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DISCOS/LANÇAMENTOS
Ex-vocalista do Verve tem seu primeiro álbum, "Alone with Everybody", lançado no Brasil
Ashcroft solo aparece em versão "família"

MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A pesar de não ser um disco ruim, chega a ser decepcionante a estréia solo do músico britânico Richard Ashcroft, ex-líder e vocalista do Verve, uma das principais bandas do britpop dos anos 90.
É que Ashcroft abandonou o rock, e suas novas baladas não chegam aos pés das melhores músicas do último álbum do Verve, "Urban Hymns", de 1997, que projetou o grupo mundialmente, em ano em que competiu pela atenção dos críticos com discos como "OK Computer", do Radiohead, e "Be Here Now", do Oasis.
"Alone with Everybody", que gerou grande expectativa, mas foi recebido com certo desânimo pela imprensa musical britânica por ser considerado "pop demais", mostra um Ashcroft mais conformado e melancólico, menos revoltado e mais "família".
As fotos do encarte, que mostram o cantor com sua mulher, seu filho, seu cachorro, lembram o clima do primeiro álbum do ex-beatle Paul McCartney, de 1970 -em ambos os casos, são músicos que abandonaram uma grande banda e recomeçaram sozinhos, de maneira bem menos pretensiosa.
E a falta de ambição é justamente um dos maiores defeitos de "Alone with Everybody". Ashcroft não faz nenhum grande avanço em relação ao Verve, apenas deixa de lado a fúria adolescente que impulsionava as músicas mais nervosas da extinta (e saudosa) banda.
Aqui não há guitarras pesadas, não há gritos, não há adrenalina, só calmaria -e também o baterista Peter Salisbury, também um ex-Verve, que toca em oito das 11 faixas do disco.
E há também uma certa repetição de idéias. A música que abre o disco, o carro-chefe "A Song for the Lovers", começa com uma sessão de cordas, assim como começava "Bittersweet Symphony", de "Urban Hymns". De novo, aparece apenas um trompete, que não acrescenta muita coisa.
A música de abertura denuncia o que vem pela frente: uma sucessão de baladas semi-acústicas, embaladas por cordas, metais e guitarra com "pedal steel", o que deixa tudo com um ar de country norte-americano. Evocam as canções mais melodiosas de "Urban Hymns", como "Sonnet" e "The Drugs Don't Work" -mas não são tão boas assim, embora algumas cheguem perto.
As canções do novo disco, com duração média de cinco a seis minutos cada, apostam nos refrões, repetidos e repetidos em todas as faixas -"C'Mon People (We're Making It Now)" parece ser toda feita de estribilhos-, e na (boa) voz de Ashcroft, que abarrota as músicas de "yeah-yeah-yeahs", "nah-nah-nahs" e "oh-oh-ohs".
As letras, que nunca foram o forte do compositor, por vezes resvalam na breguice. "Não é um sinal de fraqueza, quando você está procurando por lugares onde as memórias brotam", canta na balada "Everybody", que pretende encerrar o disco com um pouco de otimismo.
As maiores escorregadas ficam por conta de "Money to Burn", que traz gaita e parece música de comercial de cigarro, e de "New York", enfadonha e repetitiva. O início das canções "On a Beach" e "Brave New World" são muito parecidos com o de "Lucky Man", um dos hits de "Urban Hymns".
Mas por que o disco é bom? Porque, apesar de tudo, Ashcroft é um compositor com personalidade e um intérprete competente. "Alone with Everybody" é um disco bem cuidado, que traz boas canções, como "I Get My Beat", "You in My Mind in My Sleep", "Brave New World" e "Crazy World". O único problema é que ele já fez melhor.
Para quem considerou Richard Ashcroft como uma nova esperança para o rock quando "Urban Hymns" explodiu, "Alone with Everybody" deverá ficar como um preâmbulo do melhor de sua obra ou o marco zero de sua decadência como compositor. Ainda não sabemos se o cantor, que completa 29 anos na próxima segunda-feira, vai voltar a surpreender com seu trabalho, como fez há três anos com o Verve.


Alone with Everybody
   
Artista: Richard Ashcroft
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 20, em média




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