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DISCOS/LANÇAMENTOS
Ex-vocalista do Verve tem seu primeiro álbum, "Alone with Everybody", lançado no Brasil
Ashcroft solo aparece em versão "família"
MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A pesar de não ser um disco
ruim, chega a ser decepcionante a estréia solo do músico britânico Richard Ashcroft, ex-líder
e vocalista do Verve, uma das
principais bandas do britpop dos
anos 90.
É que Ashcroft abandonou o
rock, e suas novas baladas não
chegam aos pés das melhores músicas do último álbum do Verve,
"Urban Hymns", de 1997, que
projetou o grupo mundialmente,
em ano em que competiu pela
atenção dos críticos com discos
como "OK Computer", do Radiohead, e "Be Here Now", do Oasis.
"Alone with Everybody", que
gerou grande expectativa, mas foi
recebido com certo desânimo pela imprensa musical britânica por
ser considerado "pop demais",
mostra um Ashcroft mais conformado e melancólico, menos revoltado e mais "família".
As fotos do encarte, que mostram o cantor com sua mulher,
seu filho, seu cachorro, lembram
o clima do primeiro álbum do ex-beatle Paul McCartney, de 1970
-em ambos os casos, são músicos que abandonaram uma grande banda e recomeçaram sozinhos, de maneira bem menos
pretensiosa.
E a falta de ambição é justamente um dos maiores defeitos de
"Alone with Everybody". Ashcroft não faz nenhum grande
avanço em relação ao Verve, apenas deixa de lado a fúria adolescente que impulsionava as músicas mais nervosas da extinta (e
saudosa) banda.
Aqui não há guitarras pesadas,
não há gritos, não há adrenalina,
só calmaria -e também o baterista Peter Salisbury, também um
ex-Verve, que toca em oito das 11
faixas do disco.
E há também uma certa repetição de idéias. A música que abre o
disco, o carro-chefe "A Song for
the Lovers", começa com uma
sessão de cordas, assim como começava "Bittersweet Symphony",
de "Urban Hymns". De novo,
aparece apenas um trompete, que
não acrescenta muita coisa.
A música de abertura denuncia
o que vem pela frente: uma sucessão de baladas semi-acústicas,
embaladas por cordas, metais e
guitarra com "pedal steel", o que
deixa tudo com um ar de country
norte-americano. Evocam as canções mais melodiosas de "Urban
Hymns", como "Sonnet" e "The
Drugs Don't Work" -mas não
são tão boas assim, embora algumas cheguem perto.
As canções do novo disco, com
duração média de cinco a seis minutos cada, apostam nos refrões,
repetidos e repetidos em todas as
faixas -"C'Mon People (We're
Making It Now)" parece ser toda
feita de estribilhos-, e na (boa)
voz de Ashcroft, que abarrota as
músicas de "yeah-yeah-yeahs",
"nah-nah-nahs" e "oh-oh-ohs".
As letras, que nunca foram o
forte do compositor, por vezes
resvalam na breguice. "Não é um
sinal de fraqueza, quando você está procurando por lugares onde
as memórias brotam", canta na
balada "Everybody", que pretende encerrar o disco com um pouco de otimismo.
As maiores escorregadas ficam
por conta de "Money to Burn",
que traz gaita e parece música de
comercial de cigarro, e de "New
York", enfadonha e repetitiva. O
início das canções "On a Beach" e
"Brave New World" são muito
parecidos com o de "Lucky Man",
um dos hits de "Urban Hymns".
Mas por que o disco é bom? Porque, apesar de tudo, Ashcroft é
um compositor com personalidade e um intérprete competente.
"Alone with Everybody" é um
disco bem cuidado, que traz boas
canções, como "I Get My Beat",
"You in My Mind in My Sleep",
"Brave New World" e "Crazy
World". O único problema é que
ele já fez melhor.
Para quem considerou Richard
Ashcroft como uma nova esperança para o rock quando "Urban
Hymns" explodiu, "Alone with
Everybody" deverá ficar como
um preâmbulo do melhor de sua
obra ou o marco zero de sua decadência como compositor. Ainda
não sabemos se o cantor, que
completa 29 anos na próxima segunda-feira, vai voltar a surpreender com seu trabalho, como fez há
três anos com o Verve.
Alone with Everybody
Artista: Richard Ashcroft
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 20, em média
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